(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 58

A dupla ruptura afetiva com o memorial de 1968... Não é por simples falta de interesse. Um dos eventos mais dramáticas do 68 brasileiro é a batalha da rua Maria Antônia em São Paulo. Ela colocou em conflito os alunos de esquerda da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, situada então no bairro Consolação, e os alunos de direita da Faculdade Mackenzie. 3 Uma das táticas disponíveis às empresas de telecomunicação que operam ou como monopólio ou como cartel especifico ao contexto atual no Brasil, é comemorar a revolta e as insurgências sempre de outros países. Qual mais de- sejável que a França? O maio de 68 parisiense foi comemorado neste ano de 2018 na Rede Globo, enquanto o mesmo finalizava a demolição do Partido dos Trabalhadores. Foi comemorado no filme nacional profundamente ambíguo de João Moreira Salles, O Intenso agora, por ser editado por meio de películas e escri- tos feitas por sua mãe em condições de altíssimo luxo contra o qual o 68 político, pelo menos, rompia. Enquanto Salles exalta uma melancolia sem desejo de retorno, ainda assombram as impressões factuais capturadas por Chris Marker em On vous parle du Brésil: Tortures (Fala-se para vocês do Brasil: torturas, de 1969), e do mais recente O Dia que durou 21 Anos, de Camillo Gali Tavares (2012), mas que usa películas originais da época. Tavares anima o processo que apagou a foto do ano da revolta no Brasil ao recompor a conspiração montada em 1964 pelo então embaixador Lincoln Gordon, cuja paranoia mista com ambição colocou a Marinha estadunidense a um passo de in- vadir o Brasil. Os brasileiros não tiveram o luxo de uma revolta como a dos parisienses. Diante desta contextualização do 68 político é importante também juntar uma segunda afirmação: é quase impossível, a partir da posição que eu ocupo, afirmar o que era a nova configuração da política implicada por maio de 68. A universi- dade contemporânea não é mais o lugar onde se constrói uma política fiel a 68, embora seja um ótimo espaço potencial para 3 57 Maria Antônia: Uma rua em contramão. Organizado por Maria Cecília Loschiavo dos Santos. São Paulo: Livraria Nobel, 1988 (Reedição de 2018).