(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 57

Norman Roland Madarasz demandas sociais por mais igualdade, demandas transformadas em direitos que as democracias entregavam gradualmente no espaço de três décadas – após outras rupturas. No imediato, a absorção e adequação da força revolucionária dos sixties será marcado por jovens políticos, cujo juventude tecerá as condi- ções de surgimento da sociedade em rede. Na verdade, e apesar das aparências, o rescaldo imediato visará impermeabilizar o Estado diante destas demandas, estas sendo comunistas ou não. Seu primeiro passo será um ajuste do Estado patriarcal. No lado de cá, era menos glorioso. Em Paris, até a polícia filmava as manifestações. Aqui perdura o invisível, o desco- nhecido e até agora o indesejado. Por isso, Carlos Drummond de Andrade perguntava, chorando, sobre aquilo que ninguém quer lembrar, o 68 brasileiro apagado, aterrorizado, apesar de ser também uma revolta da sociedade. No poema “Diante das fotos de Evandro Teixeira”, ele se pergunta: “Das lutas de rua no Rio em 68, que nos resta mais positivo, mais queimante do que as fotos acusadoras, tão vivas hoje como então, a lembrar como a exorcizar?” 2 O que nos resta do maio francês, parisiense, é a luta con- tra a melancolia que todo acontecimento parece produzir, pois não haveria gênio suficiente na comunidade humana para levar adiante a organização igualitária da coletividade econômica e política. O que resta do 68 québécois é uma sociedade rica em diversidade, autônoma mesmo se não independente, que confirma a tese histórica segundo a qual sem revolução não há progresso social. O que nos resta do 68 brasileiro é a profunda preocupação de ver a história suja se repetindo. 2 56 ANDRADE, Carlos Drummond de, “Diante das fotos de Evandro Teixeira”. In: TEI- XEIRA, Evandro, Fotojornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: JB, 1982.