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Maio de 1968 e a transformação dos repertórios de ação coletiva na França
Beauvoir (1949), porém, ganhou força após 1968 57 . O ressur-
gimento do movimento foi de certa forma, uma consequência
de maio de 1968, mas, ao mesmo tempo, travou grandes emba-
tes com a esquerda francesa que o protagonizou. De qualquer
forma, ao afirmar que “o privado é político” o movimento con-
tribuiu para indicar para a nova esquerda o caminho em defesa
da subjetividade 58 . A força e amplitude do movimento feminista
francês foram extraordinárias, o que ficou demonstrado com a
legalização do aborto em 1975 e a sua influência sob mulheres
de outros países, tal como podemos observar ao analisar as
exiladas brasileiras na França 59 .
É importante destacar que as reivindicações dos novos
movimentos sociais contribuíram para que a esquerda
francesa repensasse a questão dos direitos sociais. Segundo Éric
Agrikoloansky, a relação da esquerda com a questão dos direitos
humanos sempre foi ambígua, porém, a repressão aos grupos
de extrema-esquerda pós-1968 e a crescente crítica ao modelo
soviético durante a década de 1970, fez com que a esquerda
mudasse seus repertórios de ação. Portanto, o discurso em favor
dos Direitos Humanos vai ao encontro com o abandono de vá-
rias posições políticas que guiavam os partidos esquerdistas e
a emergência da defesa das liberdades individuais. Com efeito,
o discurso em favor dos Direitos Humanos deu legitimidade
ao enfrentamento com a direita, que, durante a presidência de
Valery Giscard d’Estaing (1974 – 1981), defendia o discurso de
“liberalismo avançado” 60 .
57 ROCHEFORT, Florence. Les feminists. In: BECKER, Jean-Jacques et CANDAR, Gilles
(dir.). Histoire des gauches en France. Volume 2: siècle à l’épreuve de l’histoire. Paris:
La Découverte, 2005, p. 108.
58 ROCHEFORT, 2000, p. 114.
59 Ver: MARQUES, Teresa Cristina Schneider Marques. A esquerda brasileira exilada
e o feminismo: a atuação política das brasileiras no Chile e na França (1968-1979).
Projeto História (Online), v. 1, p. 112, 2015.
60 AGRIKOLOANSKY, Éric. La gauche, le liberalism politique et les droits de l’homme.
In: BECKER, Jean-Jacques et CANDAR, Gilles (dir.). Histoire des gauches en France.
Volume 2: siècle à l’épreuve de l’histoire. Paris: La Découverte, 2005. p. 524, 536-537.
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