(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 29
Teresa Cristina Schneider Marques
tantes intelectuais das universidades francesas. O debate colo-
cava em questão diferentes interpretações sobre o marxismo
e o socialismo e evidenciou a simpatia de muitos intelectuais
franceses pelo pensamento de Mao Tsé-Tung, por representar
uma alternativa ao socialismo soviético, ao valorizar o sujeito
politicamente e culturalmente 53 . Outras questões, tais como o
humanismo, também foram debatidas. O fato é que esse debate
foi essencial para a redefinição das esquerdas, não apenas na
França, mas em todo o ocidente 54 . Para Sidney Tarrow, esse é,
inclusive, um dos aspectos mais marcantes do movimento de
maio de 1968: a rápida difusão transnacional das suas ideias 55 .
As novas ideias que se baseavam na valorização do indi-
víduo fizeram com que a Nova Esquerda francesa na década
de 1970 passasse a atuar através novas formas de mobilização
política, dentre as quais merece destaque a greve de fome. Se-
gundo Johanna Siméant, a primeira greve de fome utilizada
como forma de manifestação política data de 1971. Primeira-
mente, essa forma de ação foi adotada por militantes da extre-
ma-esquerda francesa, e se popularizou entre a população que
tinha um repertório de atuação política limitado por questões
jurídicas. Assim, os migrantes ilegais – com destaque para os
“Sans Papiers” – e a população carcerária passaram a recorrer a
esse método, que visava usar o corpo para reivindicar o “direito
de existir” 56 .
O movimento feminista francês da década de 1970 também
parte da Nova Esquerda e sobretudo dessa redefinição teórica e
prática pela qual ela passou no início dessa década. A chamada
“segunda onda” do feminismo francês teve em início na década
de 1960, por influência da obra O segundo sexo de Simone de
53 Posteriormente, boa parte dos intelectuais franceses deixaram de apoiar a Revolução
Chinesa, principalmente após as denúncias que emergiram sobre regime político
chinês. Ver: ARAÚJO, 2000, p. 107.
54 ARAÚJO, 2000, p. 55.
55 TARROW, 2009, p. 199.
56 SIMÉANT, Johanna. La cause des Sans Papiers. Paris: Presses de Sciences Po, 1998.
p. 281, 287.
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