(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 28

Maio de 1968 e a transformação dos repertórios de ação coletiva na França nização e hierarquia” e a defesa de uma “democracia direta, par- ticipativa e sem intermediários” 48 . Em outras palavras, a esquerda alternativa procurava fazer uma crítica à noção tradicional da representatividade política e defender a participação direta dos indivíduos nas decisões políticas. Ao defender a singularidade, as diferenças e as especificida- des, a esquerda alternativa rompia com o marxismo. Para Han- nah Arendt, Marx e intelectuais marxistas formavam o principal embasamento teórico dos diversos grupos e organizações arma- das da década de 1960 49 . A Nova Esquerda utilizava categorias de análises marxistas consideradas indispensáveis, tais como as ideias de “totalidade” e “universalidade” na sua retórica teórica. Com a reavaliação das suas formas de ação na primeira metade da década de 1970, estas categorias foram abandonadas e passou a haver uma valorização do específico e da fragmentação 50 . Intelectuais franceses estão entre as principais influências na construção dessa nova linha de pensamento da esquerda 51 . Dentre eles, merecem destaque Michel Foucault e Gilles De- leuze, que deixaram claro a oposição à noção de totalidade em um diálogo intitulado “Os intelectuais e o poder” publicado na obra “A microfísica do poder” de Foucault: Isto quer dizer que a generalidade da luta certamente não se faz por meio da totalização de que você falava há pouco, por meio da totalização teórica da ‘verdade’. O que dá generalidade à luta é o próprio sistema de poder, todas as suas formas 52 . Em realidade, Foucault e Deleuze faziam parte de um amplo debate que contou com a participação de vários outros impor- 48 ARAÚJO, 2000, p. 98. 49 Todavia, Arendt considerava que a Nova Esquerda tenha interpretado os escritos de Marx e Engels de maneira incorreta, com relação ao uso da violência. Ver: ARENDT, 1994. p. 23. 50 ARAÚJO, 2000, p. 109. 51 ARAÚJO, 2000, p. 110. 52 FOUCAULT, Michel. A microfísica do poder. 20ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1979. p. 78. 27