(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 24

Maio de 1968 e a transformação dos repertórios de ação coletiva na França querda. Cabe ainda dizer que os comícios, ocupações, barricadas e greves – entre outras –, performances tradicionalmente usadas pela velha esquerda conviveram com o uso da poesia e das artes visuais enquanto repertório de ação. Assim, o “maio francês de 1968” também ficou marcado pelo romantismo das palavras de ordem dos seus manifestantes em frases gravadas nos muros de Paris e em artes divulgadas em panfletos. O romantismo do movimento de 1968 na França é apontado por Maria Paula Nascimento Araújo como um dos motivos que o levaram a ser considerado um marco, não apenas na França, mas inclusive em todo o mundo ocidental: Maio de 1968 na França foi uma imagem e um exemplo de revolta para todo o mundo ocidental. Foi lá que os acontecimentos foram mais longe: ocupação de universidades e de fábricas, greves, mani- festações e confrontos com a polícia, barricadas nas ruas. Slogans até então incompatíveis com a dura dinâmica da ação política eram escritos nos muros de Paris: “a imaginação no poder”; “um, dois três mil Vietnãs”; “é proibido proibir”. 34 Segundo Becker, o romantismo dos protestos e reprovação da violência utilizada pelo Estado contra os manifestantes, em um primeiro momento, manteve a população a favor dos mani- festantes. Posteriormente, o medo da crescente violência utiliza- da pelos próprios manifestantes, teria feito com que a população mudasse de posição 35 . Quanto à dinâmica de interação entre o Estado e Sociedade, se no início da revolta o governo francês optou pela repressão violenta, diante da reprovação da abordagem violenta o Estado francês passou a adotar uma nova estratégia na interação com os manifestantes. Em resposta às manifestações, no dia 30 de maio Charles De Gaulle dissolveu a Assembleia e em um discurso pela rádio, convocou o apoio da população ao seu governo. No mesmo dia, uma enorme manifestação de apoio ao governo 34 ARAÚJO, 2000, p. 53. 35 BECKER, 2000, p. 139. 23