(COM)POSSIBILIDADES:OS 50 ANOS DO MAIO DE 68 com-possibilidades_os_50_anos_do_maio_de_68 | Page 22

Maio de 1968 e a transformação dos repertórios de ação coletiva na França representação da tradição revolucionária, quanto um instrumento de combate puro e simples 26 . Portanto, as barricadas, bem como o uso dos paralelepípe- dos contra as forças de repressão estatais evidenciam o peso da tradição revolucionária para os revoltosos de maio de 1968. Essa disposição de enfrentamento revolucionária ficou clara no Quartier Latin de Paris, onde ocorreram os confrontos mais violentos com a polícia, que ficaram conhecidos como noites de barricadas. Para Touraine, tais enfrentamentos podem ser con- siderados o momento central do movimento 27 . A repressão aos estudantes foi violenta, o que sensibilizou parte considerável da população francesa em favor do movimento nesse momento 28 . A partir de então, o movimento ganhou volume e contou com uma expansão setorial, destacada por Tilly e Tarrow ao conceituar os ciclos de protestos 29 . Isto é, deixou de ser compos- to exclusivamente por estudantes universitários, pois passou a contar com o apoio de professores universitários, intelectuais, artistas, além dos estudantes do Lycée (equivalente ao ensino médio no Brasil) 30 . Porém, segundo Alain Touraine, foi a entra- da dos operários que transformou a revolta em um confronto de tamanha envergadura, ainda que sem a unidade que transpare- ceu. Após essa adesão, o movimento de maio passou a possuir três domínios de ação: transformação da universidade, revolta cultural e lutas operárias 31 . 26 Tradução livre do original: “Instead, its symbolic and sociological functions, which had always played a real if less visible role, came increasingly to the fore. The great barricades of the Commune were for the most part elaborate showpieces that did little to inhibit the invasion of the capital. Their primary contribution was to mo- bilize prospective combatants and reinforce the bonds of solidarity among them by expressing the participants’ sense of identification with the actions and values of generations of insurgents who had come before. In this way the barricade became as much a representation of the revolutionary tradition as an instrument of combat pure and simple”. In: TRAUGOTT, 1993, p. 317. 27 TOURAINE, 1998, p. 158. 28 BECKER, 2000, p. 139. 29 TILLY, TARROW, 2008. 30 ARAÚJO, 2000, p. 53. 31 TOURAINE, 1998, p. 157, 167. 21