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O conceito de espetáculo e seus fundamentos
[…] compreende-se que, sob o conceito de espetáculo, Debord
busca essencialmente articular duas fundamentais dimensões
constitutivas da aparência social, num momento em que a forma-
-mercadoria se estende ao conjunto do vivido: a expropriação da
atividade autônoma, inseparável da expropriação da linguagem
comunicativa. 30
Uma expropriação necessariamente implica a outra: sem a
atividade autônoma do produtor não pode haver a comunicação
direta com outro produtor pois ambos acham-se alienados entre
si. Segundo Aquino, Debord estaria concebendo uma crítica ao
capitalismo baseada na comunicação:
Debord apresenta, portanto, uma crítica teórica do capitalismo
desenvolvido na qual se encontram articuladas, de modo inse-
parável, a passividade mercantil e a instrumentação reificada da
linguagem. Para ele, o capitalismo contemporâneo se caracteriza
essencialmente por uma mesma e única expropriação do diálogo
e da atividade autônoma, condição e consequência necessárias da
universalização de relações sociais presididas pela lei do valor. 31
Para Debord, seria necessário juntar a revolução proletá-
ria com a arte moderna, mais especificamente a poesia, para
gerar uma sociedade cuja comunicação não será mais reificada,
fragmentada: “Para ele, trata-se de opor à sociedade reificada,
desde as lutas sociais cotidianas, a busca por ‘uma comunicação
direta [...] que possa, assim, transformar o mundo segundo seu
desejo.” 32 – Debord busca ultrapassar esta comunicação alienada
desta maneira. Por que a arte moderna? Pois a arte moderna
reconhece seu espaço como “autodestruição crítica” – autodes-
truição da linguagem e da experiência tradicionais. Ela se con-
30 AQUINO, João Emiliano Fortaleza de. Espetáculo, comunicação e comunis-
mo em Guy Debord. Kriterion, Belo Horizonte, v. 48, n. 115, p. 167-182, 2007.
Disponível em . Acesso em: 29 Maio 2017. http://dx.doi.
org/10.1590/S0100-512X2007000100010.
31 Ibid.
32 Ibid.
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