tempos, um pouco como aquela moça sossegada e
envergonhada que afinal proporciona muito mais do que se
esperava.
O tiro de partida foi dado no final da época 2019, com os
rumores a apontar Lewis Hamilton à Ferrari. O britânico já
provou tudo o que tinha a provar na Mercedes e faltava o
“desafio Ferrari” no CV do britânico. Ser campeão na McLaren,
Mercedes e Ferrari seria certamente um feito apenas ao
alcance de predestinados como Hamilton. Mas a entrada de
2020 arrefeceu o boato e a entrada do bicho Corona quase fez
esquecer essa possibilidade. Surgiam outros nomes nas luzes
da “ribalta”: Max Verstappen e Charles Leclerc.
A Ferrari tratou logo de “prender” Leclerc com um contrato
até 2024 e uma aposta clara no jovem monegasco para o
futuro da equipa, depois de uma época em que deixou Vettel
encostado às cordas. Sobrava Verstappen, mas a Red Bull,
depois da forte aposta no holandês, não tinha vontade de o ver
na Mercedes e tratou de sacar as notas largas, numa jogada
que garantiu a permanência de um dos maiores talentos da
atualidade e que tentava seduzir a Honda para que os
nipónicos não “fujam” da F1.
Assim os maiores “players” deste mercado pareciam ter o
futuro traçado e as perspectivas de grandes mudanças
diminuíam muito, mas faltava um… Vettel. O discurso na
apresentação era de união e de vontade de levar a Ferrari ao
tão desejado título, mas os primeiros rumores da renovação do
alemão não auguravam nada de bom.
Falou-se em contrato de apenas um ano por valores muito
abaixo do que tetracampeão aufere, numa espécie de convite à
saída. Outros rumores apontavam que não havia proposta em
cima da mesa. A dúvida adensava-se e a possibilidade Carlos
Sainz/Daniel Ricciardo ganhava protagonismo como
potenciais substitutos do #5 na Scuderia.
Até que na noite de segunda-feira 11 de Maio tudo mudou. Os
media germânicos anunciavam que o acordo entre Vettel e a
Ferrari tinha falhado e que o alemão sairia da equipa no final
da época, facto consumado e confirmado na manhã com o
comunicado. O lugar mais cobiçado da F1 ficava assim livre e
os candidatos era muitos, mas o suspense durou pouco.
Sainz era o mais forte candidato e esperava-se que a sua ida
para a Ferrari levasse Vettel à McLaren, mas
surpreendentemente (ou talvez não), foi Ricciardo a ser
anunciado como piloto da equipa de Woking, sendo horas mais
tarde confirmada a ida de Sainz para a Ferrari.
Resultado final (até agora) é uma dupla Leclerc/Sainz na
Ferrari e Norris/Ricciardo na McLaren. A Renault ficou a
“arder” vendo a sua estrela sair para um concorrente direto um
ano após a sua chegada e a azia ficou visível no comunicado de
Cyril Abiteboul onde se falava de união e lealdade (ou falta
dela), sem nunca mencionar o nome de Ricciardo. Claramente
que até agora a Renault é a grande derrotada deste mercado,
depois de ter feito um brilharete com a contratação de
Ricciardo em 2018.
Mas a história não fica por aqui. A Renault precisa de um piloto
e se quiser manter a força e credibilidade do projeto precisa de
um nome sonante. Fernando Alonso tem sido associado à
marca do losango no que seria uma jogada ainda mais
inesperada por parte dos franceses, e até de Alonso que
sempre disse que queria experimentar os novos monolugares
de 2022, mas sempre numa tentativa de ser campeão. A
Renault não garante isso a médio prazo e por isso será
surpreendente. Há também Vettel, que não deverá aceitar o
desafio, e Hulkenberg que poderá ser solução de recurso.
Outras coisas podem ainda acontecer.
Valtteri Bottas tem contrato até ao final do ano e George
Russell tem talento e perfil para uma equipa de topo e 2021
seria um excelente ano para receber o jovem que aprenderia
com Hamilton, que quando se reformasse daria “as chaves do
reino” ao seu compatriota. É apenas uma hipótese entre tantas
outras.
Temos de entender também se a Haas fica no Grande Circo,
pois Gene Haas ameaçou que poderia sair da F1 este ano e se
quer manter a dupla, pois Romain Grosjean esteve quase a sair
em 2019. Também na Alfa Romeo o futuro de Kimi Raikkonen
é incerto, não se sabendo se quer ficar na F1 por mais tempo.
Há ainda muito a descobrir neste mercado que promete uma
revolução no grid de 2021.