Campo Prático, caso do Idoso - afeto. 1 | Page 8

Por conseguinte, o cuidado com os idosos tem deixado de ser domínio exclusivo da esfera familiar e tem sido transferido para as organizações alheias a ela, como é o caso das instituições asilares. O processo de mudanças nos arranjos familiares como, por exemplo, pais com novos casamentos depois do divórcio ou da viuvez, a presença de filhos de várias uniões, a mulher indo em busca do mercado de trabalho, a falta de tempo das pessoas da família para o cuidado com os idosos, as dificuldades financeiras de manter o idoso em casa, acabou por propiciar a criação de novas variedades de padrões conjugais e familiares com relação aos idosos (NERI, 2007).

Nessa perspectiva todos os aspectos da vida são realizados em um só lugar, sob uma única autoridade. Cada fase das atividades diárias é realizada em companhia de um grupo grande de pessoas, o que muitas vezes são obrigadas a fazer as mesmas coisas em conjunto, em horários predeterminados e em sequência e sob uma vigilância (CAMARANO, 2005). Esse esforço de redução sistemática da autonomia individual levaria, gradativamente, à “inutilização da pessoa”, a perda da individualidade, a perda da autonomia do internado, levando a uma “redução da ação”, limitando as ações dos mesmos (GOFFMAN, 2003).

O contexto asilar impede a pessoa de ter o controle de sua vida, prevalecendo a necessidade de uma adaptação às normas de uma ordem administrativa que inclui disciplina em horários para deitar, levantar, comer, e a aceitação de quarto dividido com outras pessoas. Devem se conformar em perder acesso a objetos pessoais, uma vez que as instituições não possuem estrutura e suporte para acolhê-los na sua absoluta individualidade, devendo todos se adaptar à uniformização dos alojamentos (ALCÂNTARA, 2004).

Os asilos constituem a modalidade mais antiga e geral de atendimento ao idoso fora do convívio familiar, porém alguns autores apontam para os problemas ocasionados com esse tipo de assistência integral de longa permanência como: o isolamento e sua inatividade física e mental que provocam sérias consequências negativas à vida do idoso (NERI, 2007). No entanto, pode-se dizer que há espaços carregados de significados, que levam a identificação dos internos (ou não). Para o idoso que se identifica com o asilo há a confirmação da importância daquele espaço, como um espaço de acolhimento, de ajuda, mas para aquele idoso que não se identifica, não há a identificação (AFFELDT, 2013).

Desta forma, como as relações sociais se dão de forma diferenciada nestas instituições, e entre grupos etários, as intervenções psicológicas em tais locais devem ser contextualizadas para atender às demandas de tais grupos. As práticas de intervenção psicossocial possuem como objetivo levar o grupo a um momento de reflexão, de elaboração das vivências relacionadas com o seu tema de interesse (QUEIROZ, 2010).

Pois, ao sair de sua residência e ingressar em asilo o idoso passa a profundas transformações em sua vida. Inicialmente, a maior ruptura que ocorre é a perda dos laços com o passado, deixar sua casa, sua família, seus vizinhos, seus objetos pessoais que o acompanharam ao longo da vida. Nos primeiros meses da internação a família mantém os laços com os idosos e, aos poucos as visitas vão ficando cada vez mais esparsas, apenas nos dias festivos, assim os contatos entre os idosos e seus familiares vão diminuindo, chegando, em grande parte das vezes, ao abandono (QUEIROZ, 2010).