Campo Prático, caso do Idoso - afeto. 1 | Page 12

Transformações

Uma das mudanças demográficas mais marcantes e importantes da atualidade é o envelhecimento humano, o qual tem alcançado também boa representatividade em países que se encontram em desenvolvimento. O processo do envelhecer é uma trilha natural e irreversível, e é percebido por quem vivencia essa fase a partir de diferentes prismas, derivando das experiências, objetivos e perspectivas que integram a vida do ser. No contexto brasileiro, pode-se perceber que a população vem envelhecendo acentuadamente a partir da década de 60 e o principal motivo para esse fato é pelo exacerbado declínio da taxa de fecundidade (Veras, 2007).

O envelhecimento deve ser compreendido para além do olhar biológico, pois o homem não é apenas um composto de órgãos e músculos, mas, mais do que isso, este se completa através de sua inserção nos meios culturais, sociais, políticos e ideológicos, colaborando, assim, para sua constituição enquanto ser pensante, histórico e social (Guccione, 2002). O envelhecimento pode ser definido como um processo gradual, universal e irreversível, que acelera na maturidade e que provoca uma perda funcional progressiva no organismo (Nahas, 2003).

Nessa perspectiva a mudança do nosso campo prático se tornou um desafio pessoal e de construção profissional. Pois foi preciso muita sensibilidade para lidar com todas as limitações ali instaladas e ao mesmo tempo chegar a um ponto comum na construção multidimensional que a alimentação envolve. Então como faríamos para criar um momento que despertasse a relação com o comer que acontece no dia-a-dia e os valores individuais, coletivos, culturais?

Diante da nossa escolha, fomos observando todo o lugar como um todo e conhecendo mais de perto a realidade. E que nos levaria a conhecer mais sobre os idosos, suas necessidades e anseios. Como nos aproximaríamos deles, como seria a conversa já que muitos possuem limitações visuais, auditivas e cognitivas.

Com isso, Silvestre e Costa Neto (2003), destacam que a internação do idoso em instituições de longa permanência causa uma importante deterioração da capacidade funcional e autonomia do mesmo em que se exacerbam as restrições para realizar tarefas que antes da internação costumavam ser rotineiras. É por este motivo que a manutenção da autonomia e independência é de suma importância para o idoso

Contudo, nossa aproximação com os idosos não foi difícil, pois eles estão acostumados com as pessoas que vão lá frequentemente. Porém o que se tornou um desafio foi conduzir uma conversa que conseguíssemos guiar de forma a elencar as necessidades deles e ao mesmo tempo conseguir respostas para o roteiro estipulado.

Buscando definir a entrevista, Haguete (1997, p. 86) diz que se trata de um processo de interação social entre duas pessoas, no qual, uma delas, o entrevistador, tem por objetivo obter informações por parte do outro, o entrevistado. Conforme a mesma autora, o processo de entrevista contém quatro componentes: o entrevistador, o entrevistado, a situação da entrevista, o instrumento de coleta de dados ou roteiro da entrevista, que devem ser explicados, levando-se em consideração suas vantagens, desvantagens e limitações.

Realizamos as entrevistas com os idosos conforme íamos encontrando nos lugares habituais deles, de forma a não tirar seu conforto. Mas, como já citado, algumas limitações existiram na coleta dos dados, onde a necessidade da fala por parte deles era maior. Eles se mostravam carentes e sentindo falta de uma companhia para poder realmente os escutar. Pois, apesar deles viverem em comunidade, dividindo os espaços e quartos, muitos deles não interagia uns com os outros.