Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 69

Página | 69 ANÁLISE DO INTERLOCUTOR EM UMA CARTA PESSOAL ESCRITA POR CHARLES ROBERT DARWIN DESTINADA A JOSEPH DALTON HOOKER E SUAS RELAÇÕES NO CONTEXTO DO ENSINO DE BIOLOGIA Luis Felipe França Guedes Graduando em Ciências Biológicas – Licenciatura, Universidade Federal do Maranhão – UFMA [email protected] Profa. Dra. Mariana Guelero do Valle Docente do Departamento de Biologia, Universidade Federal do Maranhão – UFMA [email protected] RESUMO: Charles Darwin, o naturalista que publicou uma das obras mais famosas sobre evolução (Origem das Espécies), destinou mais de 9.000 cartas a inúmeros interlocutores, 10% do total dessas cartas foram trocadas com o botânico Joseph Dalton Hooker. Essa pesquisa tem como objetivo identificar as marcas linguístico-discursivas que caracterizam o interlocutor em uma carta pessoal de Charles Robert Darwin a Joseph Dalton Hooker. É caracterizada como qualitativa do tipo documental, sendo seu objeto de análise a primeira carta escrita por Charles Darwin a Joseph Hooker datado no período de 13 ou 20 de novembro de 1843. Essa carta está presente no livro “Origens, Cartas Seletas de Charles Darwin”, que apresenta uma coletânea de cartas traduzidas dos sete primeiros volumes do The Correspondence of Charles Darwin, publicados pela Cambridge University Press. Quanto à análise dos dados, foi feita a partir dos critérios estabelecidos por Nascimento e Espindola (2007), que explicitam que toda a produção de um texto é moldada pelos possíveis interlocutores. Os autores propõem que o interlocutor pode aparecer marcado de duas formas nas cartas: linguisticamente apenas pelo vocativo e/ou linguisticamente também no corpo da carta. A marcação linguisticamente apenas pelo vocativo é explicitada por Charles Darwin ao utilizar o vocativo "Meu prezado senhor" como forma de saudação formal ao seu interlocutor que está estabelecendo um contato inicial. Essa formalidade aparece também em outros seis momentos durante decorrer da carta, quando Darwin utiliza o vocativo "senhor" como forma de tratamento formal ao seu interlocutor. Charles Darwin demonstra momentos de diálogo com seu interlocutor que foi marcado linguisticamente também no corpo da carta ao utilizar as marcas linguístico-discursivas “lo” e “lhe” que tem função de estabelecer uma proximidade maior com seu interlocutor ao longo do texto. Outro elemento identificado durante a análise da carta é a Ciência como construção coletiva, demonstrado em dois trechos onde Charles Darwin explica ao seu interlocutor que outro naturalista, o John Stevens Henslow, teve o papel de fazer uma conexão entre os cientistas favorecendo assim o diálogo entre eles, além de trechos em que Darwin relata suas inseguranças acerca de suas análises e construções teóricas. A importância da análise das cartas pessoais de Charles Darwin, além da compreensão melhor sobre ele e seus interlocutores é também acerca de algumas problemáticas enfrentadas no ensino de Biologia, como por exemplo, a desconstrução de ideias estereotipadas sobre a Ciência. Por meio do uso das cartas pessoais como recurso didático é possível ser trabalhados diversos conceitos biológicos de maneira contextualizada e que, durante a construção do conhecimento científico podem surgir incertezas e dúvidas, mostrando que a Ciência é feita por seres humanos, que a partir de erros e do trabalho coletivo é que se produz conhecimento cientifico. Palavras-chave: Cartas. Comunicação Científica. História da Ciência. Ensino de Biologia.