Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 239

Página | 239 não muda o princípio gerador, ou seja, a arché deste pensador. Para o atomista Demócrito de Abdera (460-370 a.C), a arché não se limita a uma única coisa, ou elemento da natureza, que originava o princípio de tudo, mas de múltiplos elementos. Defendia a ideia do movimento dos átomos, onde a geração e a separação dos contrários formam além de plantas e animais, os corpos sensíveis. De acordo com Anaximandro de Mileto (610-547 a.C), a arché é o ápeiron, definido como ilimitado, infinito e indeterminado, que age governando o Universo de maneira simétrica. Da unidade, procede a divisão, a distribuição de forma sucessiva e de maneira simétrica, gerando os contrários, como o quente e o frio, buscando estabelecer a harmonia, a justiça, a proporcionalidade e a igualdade nos seres. Dessa maneira, o cosmos foi concebido e é governado. Ressaltando que tanto Tales, como Anaximandro contemplam a arché de formas distintas, de maneira material e abstrata. Os pré-socráticos procuravam algo que permanecesse em todas as mudanças, deixando de encontra-se em uma forma, para ressurgir em outra. Pretende-se compreender a construção do discurso dos pré-socráticos Tales e Anaximandro, na definição da arché, o princípio gerador de todas as coisas. Do ponto de vista doxográficos, no que diz respeito aos pré-socráticos, a arché de Tales é interpretada de maneira metafisica, por ser a água o elemento gerador de todas as coisas, e física porque a umidade estava difusa na natureza e necessária à manutenção da vida. E o ápeiron de Anaximandro é colocada como física, pois ele é princípio ilimitado, gerador e explicativo de todas as coisas, e meteorológica, porque a evaporação da água pelo sol, gera os ventos. Para obter-se dos resultados segue os objetivos: a) caracterizar a lógica do discurso; b) comparar o conceito da arché; c) identificar semelhanças nos discursos pré-socráticos; d) analisar a estrutura argumentativa dos discursos dos filósofos na explicação cosmológica. A análise da estrutura da argumentação dos filósofos pré-socráticos Tales e Anaximandro, e a busca pela definição da unidade presente em todos os seres, ou seja, a arché, torna esta pesquisa inovadora e relevante para o meio acadêmico, devido a linha de pesquisa, que pretende desenvolver uma perspectiva que tem por finalidade compreender a arte do discurso dos pré-socráticos, no estudo da arché. Além da sua importância por ter iniciado o pensamento cientifico-filosófico, estabelecendo um princípio unificador da multiplicidade do real, eles também foram a base para outras formulações de teorias filosóficas de pensadores posteriores, a exemplo de Platão, e Aristóteles. Apresenta aos interlocutores uma ampliação do conhecimento desenvolvido dos filósofos jônicos Tales e Anaximandro, contudo, através de uma nova perspectiva, estabelecendo semelhanças e contrastes entre os mesmos, e a maneira como se constroem os elementos que estão presentes em seus argumentos sobre a construção do conhecimento da arché. É necessário perceber como fundamentou-se as teses de Tales e Anaximandro, e quais elementos influenciaram seus modelos de pesquisa. Tales de Mileto, tinha conhecimentos nas áreas de geometria, aritmética e astrologia, utilizando observações empíricas, tanto dos corpos celestes, como da presença da umidade na natureza, de figuras e números. Tales utilizou-se desses conhecimentos para definir a arché em forma material. Contrapondo-se a Anaximandro de Mileto, que tinha por ocupações a geografia, matemática, astrologia e a política. Ele utiliza a metafisica e o modelo de pensamento geométrico. A investigação teórica de Anaximandro, está situada entre a problemática da metafisica e da ontologia. O ápeiron, pertence a natureza, mas não se manifesta no sensível. A arché, é responsável pelo movimento ordenador, sendo assim, a arché é a explicação da physis. Trata-se de um princípio racional, que rompe com o discurso da narrativa mitológica, que traz de maneira fantasiosa a geração do Universo. O importante para o meio acadêmico é explicar como se estruturou a argumentação desses filósofos gregos, e como tal discussão possibilitou uma quebra de paradigmas cosmológicos. O quadro espacial passa a ser livre da religião, rompe com as narrativas mitológicas. A geometrização do espaço público, propiciou os debates políticos, que se opõem aos privilégios tidos no mito, de submissão e hierarquização. Na estrutura explicativa cosmogônica, o Universo é formado por uma hierarquia de poderes. Suas relações são baseadas na força, nas escalas de precedência, na autoridade, no domínio, na