Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 238

Página | 238 ESTUDO DA ESTRUTURA DA ARGUMENTAÇÃO PRÉ-SOCRÁTICA PARA A EXPLICAÇÃO DO COSMOS: UMA ANÁLISE DOS FRAGMENTOS DE TALES E ANAXIMANDRO Camila de Jesus Ferreira [email protected] Adriano Ribeiro [email protected] Orientador: Prof. Dr. Flávio Luís de Castro Freitas Universidade Federal do Maranhão [email protected] RESUMO: As transformações ocorridas nos séculos VI e VIII a.C, nos campos econômico, cultural, social, político e científico, proporcionaram um enfraquecimento das explicações do Universo mitológico, ocasionando uma transformação de mentalidade, tanto no campo das artes, como na política e na estrutura do pensamento. Em meados do século VI a.C, a Grécia vivencia um declínio no pensamento mitológico, as explicações cosmogônicas e as vontades divinas começam a se tornar insuficientes diante da nova organização da polis. A decadência das visões mitológicas inseriu as ações e os desejos humanos no centro das discussões da ágora. Desencadeando um novo tipo de explicação direcionada ao pensamento racional, baseada nas experiências sensíveis dos indivíduos no cotidiano. Os filósofos jônicos Tales, Anaximandro e Anaxímenes da escola de Mileto, iniciaram essas concepções cientificas e filosóficas. Indagavam a origem do Universo, os elementos presentes em sua composição, a sua ordem universal, deixando as explicações cosmológicas livres das ações de agentes sobrenaturais. A mudança de mentalidade proporcionou um pensamento voltado para a vida pública, e exterior a religião, proporcionando o surgindo a filosofia cosmológica. Os debates ocorridos na ágora favoreceram a formação do pensamento político, exterior à religião. Tais discussões possibilitaram a fundação de um vocabulário político. A filosofia inicia-se com a apropriação do vocabulário político, estabelece uma linguagem, elabora conceitos próprios, edifica uma lógica, e postula uma estrutura de pensamento racional. A busca pelo discurso racional se diferencia das narrativas mitológicas, narradas pelos aedos e rapsodos, de revelações divinas, e de caráter poético que recorre aos deuses e aos mistérios. Os primeiros filósofos se preocupavam em descobrir a origem das causas primeiras, e utilizavam o método filosófico- especulativo. A finalidade da pesquisa dos filósofos da physis, era descobrir qual era o elemento permanente no fluxo e nas transformações das coisas. Esses filósofos naturalistas, buscavam nos elementos da natureza o arquétipo do Universo. Para eles, os elementos presentes na natureza, como a água, a terra, o fogo e o ar, além do movimento dos átomos, o ilimitado, e a dialética dos opostos, teriam proporcionado o surgimento da vida gerando, dando forma, organizando e governando o cosmos. Sendo assim, todos os homens, os animais, as plantas, as divindades e os seres inanimados fazem parte da mesma physis, dividindo o mesmo plano cosmológico. Para os filósofos da natureza, os seres são gerados, constituídos e dissolvidos, nessas etapas, mudando apenas a matéria que dar a forma, ou seja, as afecções, mas a substância permanece. Segundo Tales de Mileto (625/4-558 a.C), primeiro filósofo da physis, a água é o princípio gerador de todas as coisas, devido à relevância para a manutenção e preservação da vida. A umidade estava difusa na natureza e em constante movimentação. De acordo com ele, a terra boiava sobre a água, teoria que explicava a existência dos terremotos. De acordo com Heráclito de Éfeso (540-470 a.C), a arché está no devir, no movimento dialético das coisas contrárias, sendo assim a destruição de algo, significa o nascimento de outro. Esse movimento de geração é responsável pela renovação da vida do cosmos, porém esse movimento dialético