Caderno de Resumo do III SIICS Caderno de Resumos do III SIICS | Page 194

Página | 194 significativamente leves modificações. Por esse motivo, surge a necessidade de estender os horizontes nietzschiano no tocante a estética, sobretudo, direcionado a análise do conceito para a compreensão de seu sentido mais íntimo na obra, bem como também, compreender a tragédia grega por esta mesma via. É, com base nas impressões ofuscadas que a pesquisa cumpre examinar com precisão e clareza, os elementos que constitui e uni o dionisíaco. Porém, há pelo caminho pedregulhos e, como todo bom moço que mantém cautela na travessia, assim, semelhantemente, deve proceder com cautela na investigação nietzschiana, pois do caminho emerge um problema, só que agora em sua formula, estabelecida a partir da união de dois princípios: o problema é o da dialética. Deleuze (2018, p. 20) coloca muito bem o cerne do problema, quando diz que se deve: “evitar principalmente “dialetizar” o pensamento nietzschiano sob qualquer pretexto. Entretanto, o pretexto é claro: é o da cultura trágica, do pensamento trágico, da filosofia trágica que percorrem a obra”. Cabe destacar que, o filósofo é um antidialético. É por essa e outras dificuldades, que é comum ouvir dizer que Nietzsche é um filósofo difícil de ler! Como sabe-se, este tem uma escrita dura e, é preciso idas e voltas para um mínimo de compreensão. Na comunidade acadêmica o pensamento nietzschiano é incompreendido por muitos e, prestigiado por poucos. Sabendo da árdua tarefa que a investigação apresenta, procuramo-nos posicionar, a fim de tornar acessível e contribuir para com o esclarecimento da pesquisa. Não há dúvidas, de que o pensamento filosófico deste autor é relevante em nossos tempos e, insistimos mais uma vez, que é muito difícil a modernidade não ter que passar por ele. Nietzsche passou boa parte de sua vida fazendo reflexões acerca do sentido e valor da vida humana, a moral ainda sem espaço, ganhou seu lugar, mas só após este suspeitar da filosofia e de si mesmo. Muito se deteve a moral pela influência de Schopenhauer que, percorre por toda a Primeira Fase (1869-1876) do pensamento nietzschiano: a chamada “metafisica do artista”, a arte vista como proteção à verdade, para que dela não sejamos sucumbidos. As Fases seguintes remontam a Segunda (1876-1882) a “defesa da ciência”, que abre o caminho para a moral e, a Terceira (1882-1889) sua “filosofia madura”, que para Heidegger, é a única que apresenta um desenvolvimento de uma filosofia consistente. Voltemos a Primeira Fase de seu pensamento, pois é nela que reside o âmago da pesquisa filosófica e, é justamente nessa Fase, em particular “O Nascimento da Tragédia” que nasce a primeira concepção de tragédia nietzschiana, fundada excepcionalmente no espirito da música. Nesse sentido, cabe reiterar que, para chegar-se a esse elemento musical, procede na obra três ideias centrais, em que todos os demais elementos estão subordinados, são eles: “a explicação da origem, composição e finalidade da arte trágica” a “denúncia da morte da arte trágica” e o “renascimento da concepção trágica”, muito bem enunciados por Roberto Machado (2018). Ao tomar consciência das incoerências impregnadas na obra pelo pessimismo daquele, compreende que ele, não procura afirmar a vida, pelo contrário, a nega, colocando por assim, quase que inteiramente seu projeto à beira do abismo. Não obstante, consciencioso dos percalços imputados pelo erro, o erro da negação, procurou despe-se das vestes imundas do pessimismo estético, rendendo-se, sobremaneira à moral, que há muito passou imperceptível perante os bons olhos, reconhece agora, a verdadeira visão de mundo trágico: escancara, pois, as janelas da crítica dionisíaca, que quer a todo custo, “dizer Sim” à vida trágica. Diante de toda extensão e consistência de pensamento, é lançada a dualidade entre Apolo e Dionísio para a interpretação e entendimento da tragédia grega: os estudos direcionados a filologia clássica garantia-lhe uma visão critico-textual, possibilitados em conjunto das leituras filosóficas, mais precisamente a de Schopenhauer, a criticidade no plano estético-cultural. Desta maneira, a tragédia passa a ser entendida por dois campos estruturais de estudos, a partir de princípios antagônicos: mas é Dionísio que fala mais alto. Para o filósofo (2007 [1872], p.32) “o servidor ditirâmbico de Dionísio só é portanto entendido por seus iguais!”, o que significa dizer que a presença apolínea tem um princípio de união e essência à respeito da tragédia. Tem-se em vista que, o dionisíaco é a expressão mais pura das paixões artísticas, mito trágico e música são componentes