De um modo geral, tento que a montagem seja o momento em que reconstituo essa fluidez do motivo marítimo e procuro que os materiais, que são inevitavelmente mais rígidos e estáticos do que a água, consigam reecenar ou recuperar de algum modo características desta.
No epicentro desta obra está a ideia de acção, seja a acção do artista em busca de uma exterioridade do mundo, seja a acção desse outro, que é a natureza, com o objecto. Ganhando a natureza um papel activo no processo criativo como é que se concilia a estética da obra com a participação do acaso e até do tempo?
A ideia de acção é sem dúvida fundamental, mas mais do que a minha acção o que aqui está em causa para mim é a possibilidade de criar um processo criativo que esteja aberto à acção natural.
Quando há uma tal abertura e se entende a participação do acaso como uma manifestação natural, a expectativa de uma imagem final é ultrapassada. Até porque, quando compreendemos o processo, olhamos para estas imagens como imagens em fluxo, pontos de passagem das ondas.
Claro que, com a repetição, se torna possível prever, em certa medida, os comportamentos da água, mas há sempre uma abertura ao inesperado: o impacto pode ser mais forte, a água pode ter mais sal, pode não atingir a totalidade da chapa. Na estética da obra está considerada esta acção do acaso, a imprevisibilidade que faz com que os resultados variem. Por outro lado, a participação do tempo surge tanto no modo como estas imagens aparecem num primeiro momento – na captação de um intervalo temporal muito curto, um instante –, mas também numa acção mais prolongada em que o tempo vai alterando cada uma das chapas, revelando cristais de sal, tornando possível que estas se mantenham em mutação.
Nas duas fotografias que fazem parte da obra surge o artista e a representação da acção criadora. Poder-se-á discernir nestes elementos uma procura de confrontar o processo com o objecto?
Não penso nessas fotografias como um confronto, vejo-as mais como um enquadramento necessário – um acesso ao processo que permite uma melhor compreensão dos objectos e que afirma a sua presença numa interacção directa com o mar. Ao incluir estas fotografias tento alterar o modo como olhamos para as peças –