EXTENSÃO EM FOCO
Em números, podemos citar, por exemplo, que as abelhas são responsáveis pela manutenção de quase 90% das espécies vegetais da Floresta Amazônica (KERR et al. 2001), de que 1/3 da alimentação humana é influenciada por elas, que melhoram a produção de frutos de mais de 75% de culturas agrícolas mundialmente importantes (KLEIN et al. 2007), etc.
Recentemente, o mundo vem experimentando o declínio de polinizadores e os impactos na agricultura, o que levou a uma série de contribuições científicas sobre o tema, esclarecendo dúvidas, complementando informações, sugerindo soluções e abrindo novas possibilidades, com relação a ferramentas de trabalho, utilização de polinizadores alternativos, papel econômico deste serviço ecossistêmico.
Apis mellifera é a espécie de abelha mais criada no mundo e é explorada pelo homem a mais de 6.000 anos. São abelhas exóticas (trazidas da Europa e África) e sociais, formando colônias com grandes populações (mais de 80.000 mil indivíduos), providas de um ferrão conectado a uma bolsa de veneno e uma capacidade de se defender muito aguçada, e com elevada capacidade de multiplicação nas condições do Semiárido, por exemplo. Esse processo reprodutivo ocorre nos períodos de maior disponibilidade de alimento, provocando rotas migratórias da zona rural para a zona urbana e vice e versa. Na busca por novos locais para construção do ninho, os enxames de abelhas podem se instalar nos mais diversos lugares: no interior de casas, carros, árvores, caixas, telhados, etc. Assim sendo, passam a oferecer riscos a população.
Tradicionalmente, para controle e combate dos enxames nessas zonas, os Bombeiros Militares são acionados. Sem treinamentos apropriados para manejar essas abelhas, os bombeiros fazem uso de fogo para o extermínio das colônias. Essa prática, além de apresentar riscos aos combatentes, e dependendo do local que estejam instaladas também para a população, causa sérios danos ecológicos e fere o princípio do direito a vida.
Diante disso, surge o projeto de extensão da UAST/UFRPE “Conservando para criar: Captura de abelhas dos centros urbanos para inclusão produtiva em comunidade de assentamento rural”, que, em parceria com o 3º Grupamento de Corpo de Bombeiros de Serra Talhada, possibilitaria a captura e remoção dessas abelhas através de práticas de manejo adequadas, permitindo assim que fossem criadas em uma comunidade de assentados da reforma agrária. Dessa forma, além de evitarmos a morte dessas abelhas, proporcionaríamos uma fonte de rendas alternativa para agricultores e agricultoras da comunidade de Carnaúba do Ajudante, assim como viabilizaria a criação e fortalecimento do apiário da UAST para fins didáticos no curso de Zootecnia e atividades de pesquisa e extensão (Figura 1).
O projeto durou dois anos, de 2014 a 2016, tendo recebido um total de 105 chamados de ocorrência de enxame/colônia de abelhas, dos quais 52 foram capturados (55%). O restante ou já não estavam mais no local, por serem enxames transitórios, ou estavam em locais que não permitiam a coleta, ou já tinham sido exterminados pela própria comunidade. Salienta-se que esse último correspondeu apenas 6% dos casos. Com essas efetivamente coletadas, foi instalado um apiário na Comunidade de Carnaúba do Ajudante, e a partir de ações de capacitação previstas no projeto, atualmente já produzem mel e comercializam na feira Agroecológica de Serra Talhada (Figura 1).
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Vol. 3 - Outubro de 2017