Quando imaginamos animais e cavernas, a primeira imagem mental para muitos é a de morcegos no teto escuro de uma caverna, à espera do anoitecer para voarem dali para fora. No entanto, essa não é a história toda! Não só existem muitos outros animais que gostam de passar o seu tempo precioso nas cavernas, tal como os morcegos, como também há uma vasta gama de seres que passam toda a sua existência na escuridão das profundezas da Terra, sem qualquer luz solar e alimentando-se apenas dos restos que ali se depositam. Tais seres são denominados troglóbios; já os animais que passam muito tempo nas cavernas, mas que não vivem (ou podem não viver) toda a sua vida nelas, são chamados troglófilos. Além disso, existem os troglóxenos, animais que ocasionalmente acabam por habitar cavernas, quando nelas procuram refúgio.
O leitor pode estar a perguntar-se: como é possível uma caverna abrigar confortavelmente vida quando a fotossíntese, fenómeno crucial para a existência dos seres da base da cadeia trófica, não pode ser realizada? Bem, caro leitor, apesar de as cavernas não possuírem condições para a existência de vida vegetal nas zonas de total breu, obtêm nutrientes ao servir de escoamento para resíduos biológicos provenientes de dejetos de troglóxenos, de raízes de plantas ou de material arrastado pelo transbordamento de cheias de águas superficiais. Graças a isso, um ecossistema nas zonas sem luz das cavernas é capaz de se manter. Estes ecossistemas também apresentam elevada humidade e temperaturas constantes, o que torna o ambiente cavernícola muito mais estável em relação à superfície. Já a elevada humidade permite a formação de charcos e riachos que proporcionam um ambiente adequado para certos seres aquáticos habitarem.
ANIMAIS TROGLÓBIOS:
vida num mundo sem sol
Ângelo Morgado Oliveira
Esquema das quatro zonas ambientais duma caverna, ilustrando o desaparecimento gradual de luz solar, bem como a distribuição de nutrientes, estabilidade ambiental e grau de especiação.