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Todos os dias, dezenas de pessoas deixam tudo que têm para trás. Elas entram num barco clandestino, muitas vezes arriscando suas vidas, para atravessar o Mar Mediterrâneo rumo à Europa. Em outro ponto, no Oriente Médio, famílias vivem em acampamentos improvisados e em edifícios destruídos, e na África, muitos vagam sem destino, procurando um lugar seguro.

Essa é a realidade de milhões de homens, mulheres e crianças que foram forçadas a se deslocar de suas casas. Os refugiados são pessoas que escaparam de conflitos armados, como a guerra ou a perseguição (política, violações dos direitos humanos ou violência religiosa e sectária). Com frequência, sua situação é tão perigosa e intolerável que precisam cruzar fronteiras internacionais para buscar segurança nos países mais próximos .

O número de pessoas nessa situação é dramático e

não para de crescer. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), vivemos a maior crise global de refugiados da história. Em 2016, havia 65,6 milhões de pessoas nessa situação no mundo. Mais de 300 mil em relação ao ano anterior. Os dados são do relatório “Tendências Globais – Deslocamentos Forçados em 2016”, divulgado em junho.

Esse total representa um número sem precedentes de gente que precisa de proteção no mundo inteiro. Se essas 65,6 milhões de pessoas formassem um país, ele teria a 21ª maior população do planeta, pouco maior que o Reino Unido. Os refugiados se dividem em três perfis. As pessoas que cruzaram fronteiras internacionais somam 22,5 milhões. Outros 40,3 milhões se deslocaram dentro de seus próprios países. E ainda existem 2,8 milhões de candidatos a asilo político, provenientes dos quatro cantos do planeta.

Número de pessoas forçadas a se deslocar dos seus países é o maior da história .

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O ACNUR também manifestou preocupação

especial com a situação das crianças. Elas

representam a metade dos refugiados de todo o

mundo e estão em situação de maior

vulnerabilidade. Muitas são órfãs e atravessam

as fronteiras sozinha. Outras enfrentam perigos

pelo caminho, como o risco de afogamento em

travessias por mar, má nutrição e desidratação,

tráfico, rapto e violação.

As crianças que se encontram nessa situação

também alimentam o problema dos apátridas.

Isso ocorre principalmente quando uma pessoa

nasce num país que lhe nega a nacionalidade. Até o final de 2016, ao menos 10 milhões de refugiados estavam nessa situação.

O intenso movimento de deslocação forçada é o símbolo de um estado de guerra que nunca acaba e do colapso de tentativas de paz em conflitos armados. “O deslocamento forçado global continua a ser o mais alto já registrado.A diferença é que hoje temos conflitos que perduram há muitos anos, há 20 ou 30 anos”, analisou a representante do ACNUR no Brasil, Isabel Marquez. ““No passado, havia guerras, mas elas terminavam com soluções duradouras. Isso deixou de existir”, completou.

A guerra civil na Síria, que desde 2011 já fez mais de 500 mil mortos, continua fazendo com que o país seja o local de origem da maior parte dos refugiados (5,5 milhões) e deslocados (6,3 milhões) do mundo. A guerra começou com protestos de rua contra o governo e se transformou num conflito armado. Desde o seu estopim, ela já provocou a saída de mais da metade da população do país, uma situação de calamidade.

A instabilidade no Oriente Médio também afetou o Afeganistão (com 4,7 milhões de refugiados), e o Iraque (4,2 milhões). No primeiro país, o Exército luta contra os radicais islâmicos do regime Taleban, mas há também enfrentamentos entre milícias rivais. No Iraque, grupos armados lutam contra o grupo terrorista Estado Islâmico, que busca criar um califado na região. Ainda assim, esse número fica abaixo dos 5,3 milhões de refugiados palestinianos, vítimas da diáspora provocada pelo conflito árabe-israelense.

Entretanto, em 2016 um novo elemento de destaque foi o Sudão do Sul, onde uma guerra civil (que já dura três anos) contribuiu para que 1,4 milhão de pessoas cruzassem a fronteira em busca de segurança. A maior parte se desloca para países vizinhos. Outros 1,9 milhão são deslocados internos.

Crianças desenraizadas

De onde sai o êxodo humano