Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura
constituídos por parâmetros, de modo a facilitar
a manipulação de acordo com a necessidade do
usuário. Assim, a MP torna-se uma poderosa
ferramenta digital para explorar diferentes
configurações geométricas em projetos AEC
(FLORIO, 2009a).
O poder dos computadores está na sua
capacidade de calcular rapidamente complexas
fórmulas matemáticas. No âmbito do projeto de
edifícios, este fato tem permitido viabilizar
geometrias
complexas,
introduzindo
a
possibilidade de criar e manipular novas famílias
de formas e de superfícies curvas. Novas
ferramentas computacionais, em ambientes
paramétricos,
permitem
programar
as
dependências entre componentes, por meio do
uso de variáveis, chamadas parâmetros. Estes
permitem construir regras, traçar relações entre
os pontos de uma curva, e definir o
relacionamento e dependência entre eles.
Portanto, as curvas derivadas deles capacitam a
criação de superfícies curvas controladas
parametricamente.
Há diferentes modos de estabelecer parâmetros.
A MP por scripts é extremamente eficiente para
programar algoritmos complexos. No entanto,
alguns plug-ins, como o Grasshopper e o Paneling
Tools, têm facilitado o trabalho daqueles que não
são programadores, ou mesmo daqueles que não
possuem interesse em realizar a verdadeira
programação.
Nos últimos anos tem-se acompanhado o
crescente interesse dos estudantes de
arquitetura por formas e espaços de grande
complexidade,
em
particular
edifícios
contemporâneos gerados a partir das novas
tecnologias digitais. O plug-in Grasshopper, com
scripts embutidos nos comandos, é o mais
popular na atualidade. Criado em 2008, este
plug-in tem fascinado jovens estudantes a operar
com scripts embutidos nas sequências de
comandos, que os antigos meios de programação
não conseguiram. Sua facilidade de operação
tem incentivado a produção de componentes de
grande
complexidade,
com
parâmetros
claramente definidos. Consequentemente, nota-
se que tais recursos tecnológicos têm
contribuído para avanços significativos sobre o
domínio de formas de grande complexidade,
sobretudo para novos estudos sobre a geometria
topológica.
A partir do programa Rhinoceros, que opera com
recursos NURB, e do Grasshopper, pôde-se
avançar na investigação de formas e superfícies
topologicamente contínuas de terceiro grau ou
superior. Não se trata mais de operar apenas
sobre elementos geométricos como linhas e
planos, trata-se de operar sobre parâmetros que
subjazem à construção geométrica da forma.
Assim, a manipulação topológica dos pontos e
curvas no espaço, que constituem os elementos
geométricos, é que impulsiona as construções de
grande complexidade formal e espacial na
atualidade.
Entretanto, é importante explicar inicialmente a
natureza desta continuidade das superfícies
topológicas. Segundo David Rogers, “curvas e
superfícies são representadas matematicamente,
ou explicitamente, ou implicitamente, ou ainda
parametricamente” (ROGERS, 2001, p.2). Este
último se dá quando um dos parâmetros é
flexível, ou seja, pode variar. As superfícies
decorrentes destas variações paramétricas
podem ser contínuas se o polinômio for de
terceiro grau ou superior. Esta qualidade só
pôde ser incorporada, como uso em projetos, a
partir
do
processamento
matemático
computacional. Todavia, há duas espécies de
continuidade associada a curvas e superfícies: a
continuidade geométrica e a continuidade
paramétrica. Segundo Rogers (2001), a primeira
é física e a segunda é matemática. Para a
definição que nos interessa neste artigo, ambas
continuidades são fundamentais, pois o
interesse é modelar formas contínuas, definindo-
as matematicamente no computador, e depois,
construí-las, fisicamente, a partir de modelos
físicos derivados de desenhos computacionais.
Pesquisas publicadas no Congresso Sigradi nos
últimos anos (ALVARADO; TURKIENICZ, 2010;
BRUSCATO;
ALVARADO,
2010;
BUENO;
BARRERA, 2008; CELANI, 2009; CHIARELLA,
2004; FLORIO; TAGLIARI, 2008; HANNA;
TURNER, 2006; HERNANDEZ, 2004; HERRERA,
2009; TAGLIARI; FLORIO, 2009; VINCENT;
NARDELLI; NARDIN, 2010), revelam a crescente
importância da MP e dos sistemas generativos
no processo de projeto em arquitetura. Além
disso, a intensificação do uso de protótipos
rápidos e da fabricação digital de elementos
construtivos, no âmbito acadêmico, tem
renovado o interesse pelo processo construtivo e
sua materialização em ambiente físico.
3. RACIOCÍNIO ANALÓGICO E CRIATIVIDADE
Atualmente pode-se afirmar que criatividade é a
faculdade humana que excede os processos e
rotinas diárias de pensamento e fazer. A
criatividade é a capacidade de realizar uma
produção que seja ao mesmo tempo nova e
adaptada ao contexto na qual ela se manifesta,
ou ainda, criatividade é a combinação original de
ideias conhecidas. Por este entendimento,
arquitetos são criativos quando produzem
combinações e associações incomuns de ideias,
GTP | Volume 6, Número 2 | São Carlos | p. 43-66 | Dezembro, 2011
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