Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura
1. INTRODUÇÃO
A fragmentação do Ensino em disciplinas
estanques, sem conexões umas com as outras,
sempre gerou sérios problemas para a
integração de conteúdos no currículo. No
entanto, nas últimas décadas, a forte pressão em
incorporar novas disciplinas e, ao mesmo tempo,
a exclusão sem critério de disciplinas
fundamentais, tem causado instabilidades,
prejudiciais para o processo de ensino-
aprendizagem de arquitetura. O ensino de
qualidade não pode desconsiderar os
fundamentos básicos de cada profissão, nem
tampouco deixar de incorporar novos
conhecimentos sem reflexão e crítica. Neste relato, o enfoque das disciplinas de
Informática e de Maquete não é operacional e
instrumental, como ocorre em muitos Cursos de
Arquitetura. O pressuposto é que estas
disciplinas práticas podem e devem ser uma
continuidade das atividades realizadas no atelier
de projeto. Além das habilidades e
conhecimentos técnicos, estas disciplinas
incorporam procedimentos reflexivos e críticos
sobre o processo de desenvolvimento e de
representação de projetos de arquitetura.
Portanto, a ideia central é que conhecimentos
novos e antigos estão na base do pensamento
criativo e reflexivo.
Neste artigo defendemos a ideia de que é
possível incluir novos conteúdos e atender ao
plano de ensino, com os conhecimentos básicos,
considerados fundamentais em cada disciplina.
Além disso, os procedimentos adotados em sala
de aula conciliaram as novas tecnologias com os
processos artesanais, sem a eliminação de
experiências sensoriais importantes, uma vez
que, do ponto de vista da cognição, este processo
enriquece a aquisição de conhecimentos. O presente artigo tem como objetivo refletir
sobre o uso da modelagem paramétrica em
projeto de arquitetura. Na primeira parte do
artigo, introduzimos: conceitos e definições
sobre modelagem paramétrica; raciocínio
analógico e criatividade; ensino-aprendizagem e
o processo de projeto. Na segunda parte
relatamos a experiência didática em que foram
utilizadas a modelagem paramétrica e a
fabricação digital para produzir diferentes
padrões de coberturas de edifícios.
Na atualidade, o artesanal e o tecnológico estão
fortemente presentes na produção de projetos
de arquitetura. Os grandes escritórios de
arquitetura demonstram que maquetes físicas
ainda são fundamentais para a plena
compreensão
do
espaço.
Os
antigos
conhecimentos de geometria são fundamentais
para compreender e projetar espaços de grande
complexidade. Parece razoável, por este ponto
de vista, que se faça uma re-valorização destes
conhecimentos diante das facilidades trazidas
pelas novas tecnologias de representação e de
simulação de espaços.
O objeto de análise do artigo são os algoritmos,
os modelos geométricos digitais 3D e as
maquetes físicas realizadas pelos estudantes. Os
resultados obtidos incluem desenhos de
diferentes padrões geométricos e sua
materialização em maquetes físicas. São
relatados os procedimentos adotados durante
sua realização no atelier e no laboratório de
informática. Na parte final realizamos a
discussão sobre a experiência didática,
considerações e conclusões finais sobre o
raciocínio analógico paramétrico.
2. MODELAGEM PARAMÉTRICA
Nas últimas duas décadas, as máquinas de
controle numérico têm auxiliado a fabricação de
formas orgânicas e incentivado a criatividade.
Branko Kolarevic (2003) aponta pesquisas e
edifícios construídos a partir das novas técnicas
de modelagem geométrica e de fabricação
digital, e alerta sobre a importância dos novos
conhecimentos sobre topologia, geometrias não-
euclidianas, NURBS (Non Uniform Rational Beta
Splines) e parametrização. Além disso, a
arquitetura internacional recente demonstra
claramente que a modelagem paramétrica (MP)
e a fabricação digital têm amparado os
arquitetos e engenheiros nessa renovação no
modo de construir.
Normalmente, durante o processo de criação e
desenvolvimento de um projeto de arquitetura,
características específicas de partes desenhadas
são revisadas e modificadas muitas vezes. Para
responder a este problema foi desenvolvida uma
estrutura, embutida em programas gráficos
computacionais, baseada em parâmetros e
hierarquia: as variações paramétricas.
O uso de parâmetros para definir a geometria de
elementos construtivos, no âmbito da
construção civil, tem provado ser cada vez mais
eficaz no processo de projeto. Edifícios são
compostos literalmente de milhares de partes
individuais, e de um grande número de
conexões. Uma modelagem desse tipo exige que
essas porções sejam agrupadas em componentes
GTP | Volume 6, Número 2 | São Carlos | p. 43-66 | Dezembro, 2011
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