Arquitetura Paramétrica Apostilha modelagem parametrica | Page 2

Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura 1. INTRODUÇÃO A fragmentação do Ensino em disciplinas estanques, sem conexões umas com as outras, sempre gerou sérios problemas para a integração de conteúdos no currículo. No entanto, nas últimas décadas, a forte pressão em incorporar novas disciplinas e, ao mesmo tempo, a exclusão sem critério de disciplinas fundamentais, tem causado instabilidades, prejudiciais para o processo de ensino- aprendizagem de arquitetura. O ensino de qualidade não pode desconsiderar os fundamentos básicos de cada profissão, nem tampouco deixar de incorporar novos conhecimentos sem reflexão e crítica. Neste relato, o enfoque das disciplinas de Informática e de Maquete não é operacional e instrumental, como ocorre em muitos Cursos de Arquitetura. O pressuposto é que estas disciplinas práticas podem e devem ser uma continuidade das atividades realizadas no atelier de projeto. Além das habilidades e conhecimentos técnicos, estas disciplinas incorporam procedimentos reflexivos e críticos sobre o processo de desenvolvimento e de representação de projetos de arquitetura. Portanto, a ideia central é que conhecimentos novos e antigos estão na base do pensamento criativo e reflexivo. Neste artigo defendemos a ideia de que é possível incluir novos conteúdos e atender ao plano de ensino, com os conhecimentos básicos, considerados fundamentais em cada disciplina. Além disso, os procedimentos adotados em sala de aula conciliaram as novas tecnologias com os processos artesanais, sem a eliminação de experiências sensoriais importantes, uma vez que, do ponto de vista da cognição, este processo enriquece a aquisição de conhecimentos. O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o uso da modelagem paramétrica em projeto de arquitetura. Na primeira parte do artigo, introduzimos: conceitos e definições sobre modelagem paramétrica; raciocínio analógico e criatividade; ensino-aprendizagem e o processo de projeto. Na segunda parte relatamos a experiência didática em que foram utilizadas a modelagem paramétrica e a fabricação digital para produzir diferentes padrões de coberturas de edifícios. Na atualidade, o artesanal e o tecnológico estão fortemente presentes na produção de projetos de arquitetura. Os grandes escritórios de arquitetura demonstram que maquetes físicas ainda são fundamentais para a plena compreensão do espaço. Os antigos conhecimentos de geometria são fundamentais para compreender e projetar espaços de grande complexidade. Parece razoável, por este ponto de vista, que se faça uma re-valorização destes conhecimentos diante das facilidades trazidas pelas novas tecnologias de representação e de simulação de espaços. O objeto de análise do artigo são os algoritmos, os modelos geométricos digitais 3D e as maquetes físicas realizadas pelos estudantes. Os resultados obtidos incluem desenhos de diferentes padrões geométricos e sua materialização em maquetes físicas. São relatados os procedimentos adotados durante sua realização no atelier e no laboratório de informática. Na parte final realizamos a discussão sobre a experiência didática, considerações e conclusões finais sobre o raciocínio analógico paramétrico. 2. MODELAGEM PARAMÉTRICA Nas últimas duas décadas, as máquinas de controle numérico têm auxiliado a fabricação de formas orgânicas e incentivado a criatividade. Branko Kolarevic (2003) aponta pesquisas e edifícios construídos a partir das novas técnicas de modelagem geométrica e de fabricação digital, e alerta sobre a importância dos novos conhecimentos sobre topologia, geometrias não- euclidianas, NURBS (Non Uniform Rational Beta Splines) e parametrização. Além disso, a arquitetura internacional recente demonstra claramente que a modelagem paramétrica (MP) e a fabricação digital têm amparado os arquitetos e engenheiros nessa renovação no modo de construir. Normalmente, durante o processo de criação e desenvolvimento de um projeto de arquitetura, características específicas de partes desenhadas são revisadas e modificadas muitas vezes. Para responder a este problema foi desenvolvida uma estrutura, embutida em programas gráficos computacionais, baseada em parâmetros e hierarquia: as variações paramétricas. O uso de parâmetros para definir a geometria de elementos construtivos, no âmbito da construção civil, tem provado ser cada vez mais eficaz no processo de projeto. Edifícios são compostos literalmente de milhares de partes individuais, e de um grande número de conexões. Uma modelagem desse tipo exige que essas porções sejam agrupadas em componentes GTP | Volume 6, Número 2 | São Carlos | p. 43-66 | Dezembro, 2011 44