Arquitetura Paramétrica Apostilha modelagem parametrica | Page 22

Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Integrar pensamento criativo e crítico no currículo requer organização, disciplina e grande disposição por parte do professor para orientar e debater os variados aspectos do trabalho com os alunos. Ao expor claramente os objetivos no início de cada Curso, foi possível engajar os estudantes na investigação proposta. As duas disciplinas e o workshop foram finalizados com um feedback. Isto teve um grande significado para os estudantes, pois uma realimentação positiva, ressaltando a qualidade do processo e dos resultados obtidos, demonstra interesse no aprendizado dos alunos, resultando no fortalecimento de confiança deles naquilo que eles pensaram e descobriram durante o fazer. O trabalho colaborativo foi estimulado em sala de aula, fazendo com que os grupos de estudantes trocassem informações e conhecimentos, se enriquecendo mutuamente, e aprendessem a confiar e a respeitar as ideias uns dos outros, aceitando assim diferentes pontos de vista. Constatamos que os estudantes apresentam dificuldades para identificar características conceituais e profundas sobre projetos similares. Consequentemente, a tendência é identificarem apenas alguns traços ou características no âmbito formal, sem se deter em outros domínios, como a estrutura e materiais empregados. Neste momento, a sedução da forma prevalece sobre os outros domínios, como o funcional e o técnico-construtivo. Nos primeiros semestres do Curso de Arquitetura essa limitação é ainda aceitável, mas o mesmo não pode ser dito para alunos no final do Curso, que deveriam que ter uma base mais sólida e conceitual para a atuação em projeto. Os recentes recursos do plug-in Paneling Tools têm facilitado a produção e a distribuição de componentes sobre superfícies contínuas de terceiro grau. Por se tratar de comandos pré- programados que, quando instalados localizam- se no menu superior do programa Rhinoceros, já condensam uma série de comandos do programa Rhinoceros, facilitando a operação de construção de formas a partir da distribuição e manipulação de pontos no espaço. Os pontos servem como referência para a construção de superfícies e sólidos que, por sua vez, podem ser distribuídos ao longo de isocurvas na direção U e V (isto é, x e y no espaço). No entanto, os exercícios propostos aos estudantes dos dois Cursos mencionados tiveram a intenção de não facilitar demasiadamente o processo e alcançar rapidamente os resultados oferecidos por neste tipo de plug-in. A intenção foi mostrar o pensamento que norteia a solução de determinados problemas, desde a modelagem paramétrica até a produção de modelos físicos por corte a laser. Não há dúvida que o Paneling Tools pode acelerar a obtenção de determinados resultados, mas parece que o plug-in deveria ser utilizado após o ensino de algumas técnicas de modelagem paramétrica, mesmo porque todo plug-in possui suas limitações, e não atende a todas as necessidades. Por outro lado, as atuais técnicas de modelagem paramétrica por scripts ainda apresentam dificuldades para a sua pronta utilização em Cursos de Graduação, uma vez que exigem um aprendizado mais complexo de programação, que a maioria dos estudantes de arquitetura ainda não possui. O conceito de variabilidade, com a exploração de diferentes estratégias para resolver os problemas que surgiam no decorrer do trabalho, se mostrou fundamental para a descoberta de novas possibilidades de solução para o mesmo problema. Na modelagem paramétrica, os alunos perceberam que a concatenação lógica dos comandos é apenas uma parte do problema, uma vez que a exploração de variações de parâmetros e as combinações entre eles exigem flexibilidade de pensamento e tolerância à ambiguidade. As descobertas inesperadas ocorreram, pois vários alunos revelaram que os resultados obtidos na modelagem paramétrica não haviam sido previstos à priori. Assim, para gerar diferentes famílias de formas e ampliar o repertório de soluções para o mesmo problema, os estudantes tiveram que estão abertos à experimentação e ao improviso, enfrentando riscos e incertezas durante o processo. É importante destacar que os estudantes entenderam alguns limites no uso da tecnologia envolvida (programas Rhino e Paracloud; cortadora a laser; e o plug-in Grasshopper), assim como a limitação de suas capacidades imaginativas de explorar tais recursos tecnológicos. Nessa experiência de interação homem-máquina, foi possível entender que não basta ter acesso aos diferentes aparatos tecnológicos. A capacidade de extrair, de modo criativo, o que há de melhor na competência cognitiva humana, durante sua relação com a máquina, requer experiência e motivação para explorar as potencialidades de uso dos recursos tecnológicos. Criatividade pode advir da subversão de um uso programado, ou mesmo pode ser decorrência de algo mal sucedido, mas que conduziu a um resultado inesperado e útil. O mais importante é GTP | Volume 6, Número 2 | São Carlos | p. 43-66 | Dezembro, 2011 64