Modelagem Paramétrica, Criatividade e Projeto: duas experiências com estudantes de arquitetura
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Integrar pensamento criativo e crítico no
currículo requer organização, disciplina e grande
disposição por parte do professor para orientar
e debater os variados aspectos do trabalho com
os alunos. Ao expor claramente os objetivos no
início de cada Curso, foi possível engajar os
estudantes na investigação proposta.
As duas disciplinas e o workshop foram
finalizados com um feedback. Isto teve um
grande significado para os estudantes, pois uma
realimentação positiva, ressaltando a qualidade
do processo e dos resultados obtidos, demonstra
interesse no aprendizado dos alunos, resultando
no fortalecimento de confiança deles naquilo que
eles pensaram e descobriram durante o fazer.
O trabalho colaborativo foi estimulado em sala
de aula, fazendo com que os grupos de
estudantes
trocassem
informações
e
conhecimentos, se enriquecendo mutuamente, e
aprendessem a confiar e a respeitar as ideias uns
dos outros, aceitando assim diferentes pontos de
vista.
Constatamos que os estudantes apresentam
dificuldades para identificar características
conceituais e profundas sobre projetos similares.
Consequentemente, a tendência é identificarem
apenas alguns traços ou características no
âmbito formal, sem se deter em outros domínios,
como a estrutura e materiais empregados. Neste
momento, a sedução da forma prevalece sobre
os outros domínios, como o funcional e o
técnico-construtivo. Nos primeiros semestres do
Curso de Arquitetura essa limitação é ainda
aceitável, mas o mesmo não pode ser dito para
alunos no final do Curso, que deveriam que ter
uma base mais sólida e conceitual para a atuação
em projeto.
Os recentes recursos do plug-in Paneling Tools
têm facilitado a produção e a distribuição de
componentes sobre superfícies contínuas de
terceiro grau. Por se tratar de comandos pré-
programados que, quando instalados localizam-
se no menu superior do programa Rhinoceros, já
condensam uma série de comandos do programa
Rhinoceros, facilitando a operação de construção
de formas a partir da distribuição e manipulação
de pontos no espaço. Os pontos servem como
referência para a construção de superfícies e
sólidos que, por sua vez, podem ser distribuídos
ao longo de isocurvas na direção U e V (isto é, x e
y no espaço). No entanto, os exercícios
propostos aos estudantes dos dois Cursos
mencionados tiveram a intenção de não facilitar
demasiadamente o processo e alcançar
rapidamente os resultados oferecidos por neste
tipo de plug-in. A intenção foi mostrar o
pensamento que norteia a solução de
determinados problemas, desde a modelagem
paramétrica até a produção de modelos físicos
por corte a laser. Não há dúvida que o Paneling
Tools pode acelerar a obtenção de determinados
resultados, mas parece que o plug-in deveria ser
utilizado após o ensino de algumas técnicas de
modelagem paramétrica, mesmo porque todo
plug-in possui suas limitações, e não atende a
todas as necessidades.
Por outro lado, as atuais técnicas de modelagem
paramétrica por scripts ainda apresentam
dificuldades para a sua pronta utilização em
Cursos de Graduação, uma vez que exigem um
aprendizado mais complexo de programação,
que a maioria dos estudantes de arquitetura
ainda não possui.
O conceito de variabilidade, com a exploração de
diferentes estratégias para resolver os
problemas que surgiam no decorrer do trabalho,
se mostrou fundamental para a descoberta de
novas possibilidades de solução para o mesmo
problema. Na modelagem paramétrica, os alunos
perceberam que a concatenação lógica dos
comandos é apenas uma parte do problema, uma
vez que a exploração de variações de parâmetros
e as combinações entre eles exigem flexibilidade
de pensamento e tolerância à ambiguidade. As
descobertas inesperadas ocorreram, pois vários
alunos revelaram que os resultados obtidos na
modelagem paramétrica não haviam sido
previstos à priori. Assim, para gerar diferentes
famílias de formas e ampliar o repertório de
soluções para o mesmo problema, os estudantes
tiveram que estão abertos à experimentação e ao
improviso, enfrentando riscos e incertezas
durante o processo.
É importante destacar que os estudantes
entenderam alguns limites no uso da tecnologia
envolvida (programas Rhino e Paracloud;
cortadora a laser; e o plug-in Grasshopper),
assim como a limitação de suas capacidades
imaginativas de explorar tais recursos
tecnológicos. Nessa experiência de interação
homem-máquina, foi possível entender que não
basta ter acesso aos diferentes aparatos
tecnológicos. A capacidade de extrair, de modo
criativo, o que há de melhor na competência
cognitiva humana, durante sua relação com a
máquina, requer experiência e motivação para
explorar as potencialidades de uso dos recursos
tecnológicos.
Criatividade pode advir da subversão de um uso
programado, ou mesmo pode ser decorrência de
algo mal sucedido, mas que conduziu a um
resultado inesperado e útil. O mais importante é
GTP | Volume 6, Número 2 | São Carlos | p. 43-66 | Dezembro, 2011
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