Alberto Pimentel: dossiê com pesquisa historiográfica sobre o autor. 13 de novembro de 2015. | Page 33

Mas a esperança é breve e surge mais um infortúnio: o rei D. Pedro V sente-se muito deprimido com a morte da rainha e começa a adoecer, o povo logo se prontifica a rezar por sua melhora. Seu irmão, D. Fernando, contrai a febre amarela e morre rapidamente. A febre vitimiza igualmente o rei, que neste momento encontra-se em muito mau estado.

Alvaro vê o túmulo que seria destinado ao rei e começa a ter alucinações: "o pressentimento de que a vida de el-rei estava suspensa nos braços do anjo da morte" (p. 244). Todos estão preocupados com a saúde de D. Pedro V: a população não para de ir às igrejas rezar por sua melhora. O sofrimento do povo é comparado ao sofrimento de Cristo na cruz: "era a dôr muda que inclina a fronte paciente sobre a corôa d'espinhos, e estende os braços às gramalheiras do soffrimento, e põe os olhos no céo, que foi onde Christo os poz quando expirava na cruz" (p. 247). Entretanto, a despeito de todas as orações, D. Pedro V morre, deixando Portugal imerso em angústia. Mas o povo consegue achar conforto em algo: na certeza de que o rei havia virado um anjo. Com as seguintes palavras, o autor concretiza a canonização do rei D. Pedro V:

"- O que é a vida! o que é a vida! Alli estão vinte e quatro annos! (...)

- A vida, meu tiu - disse Alvaro Vaz (...) é a flôr que se desfolha. Quem puder ser feliz, guarde bem a sua felicidade, porque a morte é impiedosa - rouba-a. (...)

- Ainda bem! ainda bem! que pude ouvir estas palavras! A Deus agradeço e à alma do rei também, que por nós todos intercedeu" (p. 254).

"A porta do paraíso" (1900), p. 241 - archive.org

“O céo por muitas vezes havia anunciado que a vida do rei era sua”. (p. 253)