Alberto Pimentel: dossiê com pesquisa historiográfica sobre o autor. 13 de novembro de 2015. | Page 31

ouvi-lo discursar pela primeira vez, Alvaro Vaz já sabe de imediato que a alma do rei é pura e é boa, e que ele batalhará contra a desigualdade social e pelo bem de todos os portugueses.

Em Alcobaça, Clarinha, por sua vez, pretende aprender a ler e escrever: assim poderia ler as cartas do primo e escrever-lhe, a fim de consolar a saudade que tanto a atormenta.

“O coração é como os fructos: só com o tempo vae amadurecendo” (p. 47).

Em Lisboa, Alvaro surpreende-se e volta a animar-se quando consegue marcar uma audiência com o rei. Por serem da mesma idade e terem mais ou menos as mesmas paixões e ambições, D. Pedro V. se solidariza com Alvaro Vaz e convida o rapaz de Alcobaça para uma conversa: conta-lhe os planos que tem para o futuro do país, principalmente quanto à melhora da educação desde os primeiros anos até o ensino superior. Ele tem um plano de fundar em Lisboa o primeiro curso superior de Letras de Portugal.

Alvaro é apadrinhado pelo rei e convidado a viajar pela Europa, para estudar em locais onde já há cursos de Letras. Essa notícia chega a Alcobaça e deixa tio e prima preocupados: João teme que o sobrinho tenha se convertido à maçonaria; Clarinha, que o primo tão amado nunca mais volte a Alcobaça.

"Quando, toucadas de nevoeiro, surgiram as recortadas 'Montanhas da Lua', a cuja falda repoisa Cintra, acudiram à mente de Alvaro Vaz estes maviosos versos do visconde d'Almeida Garrett, o maior homem que morreu durante a regencia do senhor D. Fernando:

Oh! Cintra! Oh! saudosissimo retiro

Onde se esquecem magoas, onde folga

De se olvidar no seio à natureza

Pensamento que imbala adormecido

O sussuro das folhas, c'o murmurio

Das despenhadas lymphas misturado!"

(p. 105).

O jovem apaixonado pelo saber viaja por toda a Europa, conhecendo todos os seus polos intelectual na metade do século XIX: França, Inglaterra, Alemanha e Áustria. Encanta-lhe todo esse conhecimento e Alcobaça passa a ser uma memória vaga, assim como o tio e Clarinha. No entanto, Alvaro recebe uma carta de Alcobaça, o que volta a deixá-lo melancólico e saudosista.

Alvaro regressa a Lisboa no meio da epidemia de febre amarela. Sua primeira atitude é contar ao rei tudo o que vira e aprendera nas maiores universidades europeias. D. Pedro o escuta

"A porta do paraíso" (1900), p. 129 - archive.org