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a história das máquinas
O choque da
globalização
A abertura da economia que marcou
a era Collor trouxe novos desafios
ao setor industrial. Fernando
Collor e George Bush discutem a
abertura da economia brasielira
A era de Fernando Collor foi marcada pela
abertura econômica e por uma amarga continuação da década perdida. Foi um período
decepcionante para o setor industrial, pois o
processo de abertura pressupunha também, do
lado do governo, uma série de modernizações:
redução de impostos, melhoria nos portos, na
legislação trabalhista, na modernização do Estado – e nada isso aconteceu.
Até então muitas empresas vinham atuando
num mercado protegido, sem se preocupar com
a competitividade tanto em termos tecnológicos como em termos econômicos. Não foi fácil,
para elas, enfrentarem os desafios diretos da
concorrência externa. O choque foi menor para
aquelas empresas que já vinham exportando e,
conseqüentemente, enfrentando a competição
dos países mais desenvolvidos.
Com o governo de Fernando Collor, pode-se
dizer que a filosofia do setor industrial mudou.
Antes, a meta era fazer com que um produto
fosse mais nacional possível, e não importava o
preço final. Com a abertura, a regra agora era
produzir o que tem escala e é economicamente viável da forma mais competitiva possível.
Desse conjunto de critérios vai depender o conteúdo de nacionalização da produção. Resultado: passou-se a importar mais componentes e a
fabricação de alguns produtos foi abandonada
definitivamente. As multinacionais entraram
pesado, ditando nova estratégia: o mercado
global. A ordem era concentrar a produção
para ganhar em escala.
Nesse quadro, ao longo da década de 1990
ocorreu aumento da participação estrangeira
no setor de máquinas e equipamentos brasileiro. Em 1997, ela correspondia a 42% da receita
operacional líquida do setor. Em quase todos
os ramos da indústria de bens de capital instalada no país, exceto máquinas-ferramenta, a
liderança nos anos 1990 cabia a empresas multinacionais. Elas predominavam no segmento de bens de capital feitos sob encomenda.
As estrangeiras se aproveitavam de vantagens
como disponibilidade de matéria-prima e mãode-obra barata para produzir aqui. Em geral,
as companhias escolhiam o Brasil como base
produtiva para atender também ao mercado
sul-americano.
Assim, parte da cadeia produtiva brasileira
de bens de capital foi internacionalizada na década de 1990. Entre as principais razões está a
ausência, no país, de escala de produção para
alguns componentes, principalmente aqueles
tecnologicamente sofisticados. Com elos no
exterior, o setor viu os custos nesse período
passarem a depender, cada vez mais, do comportamento da taxa de câmbio – algumas empresas aqui instaladas importavam entre 30% e
40% de insumos.