A guerra em que nos encontramos coloca frente a frente Verdade e Inverdade, Memória e Esque-
cimento, Vigília e Sono. Não nos interessa, nem “estrategicamente”, distorcer o que se nos apresenta ao
Intelecto como “fatos”, nem ocultá-los sob eufemismos. A Mentira cheira-nos a Morte. É melhor sofrer-
mos as consequências da honestidade, conforme ordena nossa natureza, do que retrocedermos diante
da Polícia do Pensamento e nos refugiarmos nos abrigos da conveniência e da demagogia, cujo chão é
insalubre e cujo ar fétido nos asfixia. Falar a Verdade, em nossa época, é um ato político – e higiênico.
Não precisamos falsear a realidade para triunfarmos, nem induzir nossos adversários ao erro. A disci-
plina da Verdade nos fez, ela irá sustentar nossa luta. A Verdade é a própria substância da Vitória. Todas
as vitórias do Engano são provisórias e constituem apenas episódios da vitória definitiva, que só pode
ser a da Verdade.
A guerra em que nos encontramos, que neste mundo apenas se atualiza repetidamente, exige
uma Aristocracia do Espírito. Homens que saibam dizer como o Prometeu de Ésquilo: “Eu já conhecia as
notícias com as quais ele me encheu os ouvidos; mas de inimigo em inimigo não há vergonha em sofrer
maus tratos. Então que lancem sobre mim a trança de fogo de duas pontas, que o éter seja abalado pelo
relâmpago e pela fúria dos ventos selvagens. Que seu sopro sacudindo a terra a arranque dos seus funda-
mentos trazendo junto as raízes. Que a massa ruidosa e rude dos mares confunda no firmamento as órbi-
tas dos astros e que meu corpo seja precipitado para o fundo do tenebroso Tártaro, impelido por uma for-
ça feroz e impiedosa. Faça o que fizer, não conseguirá fazer perecer o imortal que sou.”
É por esta postura, heroica e nobre no mais alto grau, que nos reconhecemos irmãos e aliados,
que nos despertamos uns aos outros, que aumentamos nossa força. O número é irrelevante, interessa-
nos a qualidade. Não falamos ao homem-massa. A adesão a nossos esforços é decisão individual, to-
mada após isolamento e reflexão - tal é a atitude característica de homens livres. Dispensamos adesões
decididas em grupo ou no calor do momento, adesões inseguras, fracas, sem fé, movidas pela emoção
que logo se dissipa. Falamos àqueles de vontade firme e soberana, de personalidade autêntica, capazes
de nos entender, e cuja capacidade de entendimento já assinala alguma consanguinidade transcenden-
te.
É nesta atmosfera espiritual que criamos a presente revista, que o leitor tem em mãos. Ela reúne
autores qualificados e empenhados no projeto de gerar as condições necessárias para a formação de
uma elite; uma elite não econômica, mas espiritual - e política, quiçá um dia, só por consequência. Inici-
almente reduzida em extensão, poderá ganhar volume com o passar dos meses, e se tornar presença
constante no meio tradicionalista e dissidente brasileiro. Que o leitor faça dela bom uso, e que releve
nossas imperfeições.
A Clava
Outubro, 2018