cursos para formação e aperfeiçoamento dos contadores.
Em São Paulo, na biblioteca pública Hans Cristian Andersen temática em contos de fadas, foi criado em 2007 um curso gratuito de formação de contadores de histórias. O curso, que oferece 35 vagas semestralmente, recebe em média 400 inscritos por semestre*
É possível que esse (re)surgimento de tantas pessoas dedicadas a contar histórias seja um dos fatores passíveis de explicar a sobrevivência das histórias orais tradicionais na contemporaneidade.
Entre os contadores de histórias contemporâneos encontram-se
pais, avós, tios, atores, palhaços, professores, educadores, biblio tecários, terapeutas ocupacio nais, psicólogos, profissionais da área da saúde e também elementos das mais diversas áreas, como advogados e empresários. O desejo de contar histórias pode surgir em pessoas diversos ramos, sem falar que, atualmente contar historias se converteu na atividade profissional principal de muitos pessoas.
Pensando na cena cultural da Cidade de São Paulo os narradores e grupos que serão foco dessa pesquisa estão próximos da definição de Patrice Pavis em seu Dicionário de Teatro:
O contador de histórias é um artista que se situa no cruzamentode outras artes, sozinho em cena (quase sempre), narra sua ou outra história dirigindo-se diretamente ao público, evocando acontecimentos através da fala e do gesto, interpretando uma ou várias personagens, mas sempre voltando ao seu relato. (PAVIS, 1996: 69)
Trata-se de um contador que não conta histórias apenas dentro da sua comunidade, mas que atua em espaços culturais e que se desloca de seu espaço para outros com o intuito de contar histórias, muitas vezes fazendo trânsito com a linguagem teatral.
O contador de histórias contemporâneo trabalha o tempo de maneira diferente de um contador ancestral, ou de um contador nato. Em escolas, bibliotecas e espaços culturais as histórias tem um tempo definido para acontecer e os contadores se preparam, ensaiam o que vão dizer, muitas
vezes participam de cursos e oficinas para aprimorar suas performances, o que não faz parte dos processos dos contadores tradicionais.
Contudo, é importante ressaltar que a formação de um contador de histórias, independente mente da existência recente de diversos cursos para tal, surge essencialmente do contato com as narrativas e segundo Celso Sisto de uma serie de rituais, como o ritual de autoconhe cimento, da observação do outro, o ritual de abrir o imaginário[...] (SISTO, 2012: 34)
Segundo o Narrador João Bosco, em entrevista para esta pesquisa, contar histórias é uma arte, mas não é uma coisa para especialista, você só precisa se dispor a compartilhar, abrir o coração e contar, a história vem, tem muita história dentro da gente. (Trecho de entrevista realizada para esta pesquisa com João Bosco, em 2014, ver anexo 3 p. X) O mais importante para o narrador independente de sua época ou de sua atuação, é poder ouvir o que a história tem a dizer, se apropriar da narrativa, e se dispor a compartilhar.
Durante apresentações de narração de histórias, é comum o uso de artifícios como a música, objetos, luz e sombra que funcionam como aliados do processo de criação de imagens desencadeado pela contação. O desafio do narrador é articular esses artifícios sem perder o foco principal do trabalho: a narrativa. A arte do contador tem como elemento principal a história. Como dirá a contadora Eliana Braga Aloia Atihé: Espera-se do narrador uma sujeição completa aos poderes da história narrada (ATIHE, 2013: 21)
Partimos então do ponto que define o narrador contemporâneo como um sujeito que transita entre os universos da realidade e da ficção, enquanto conta uma história, motivado pela necessidade humana universal de compreender a si e aos elementos que participam da sua existência no mundo.
* Além da biblioteca Hans C. Andersen atualmente muitas instituições oferecemcursos de formação para narradores, como a Casa da Palavra e outras Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, ONGs e associações como a Viva e Deixe Viver, escolas como SENAC e outras instituições públicas e privadas.