A Capitolina 7, julho 2014 | Page 41

Livros Para Todos 38

A relutância em interpretar a escrita, devido à disfunção cerebral que dificulta a correlação entre os sons e a grafia, faz com que as crianças permaneçam mais quietas em sala de aula, dispersas, por vezes até mesmo na realização de tarefas cotidianas consideradas simples pelos que as cercam. Na escola, comumente são taxadas de preguiçosas, desinteressadas e zombeteiras, por professores e diretores igualmente desinteressados em saber mais sobre seus alunos.

De acordo com Fernando C. Capovilla, professor do Instituto de Psicologia da USP, de 5 a 17% da população possui dislexia, mesmo sem ter recebido um diagnóstico. Felizmente, como forma de contornar esses dados, há um método adequado e inclusivo que pode certamente ser adotado em escolas de toda a rede de ensino sem grandes custos. É o Método Fônico, que permite que as crianças, disléxicas ou não, aprendam a ler sem grandes dificuldades, graças aos recursos lúdicos como cantigas de roda, nas quais podemos trocar as sílabas para elucidar como elas se comportam nas palavras, bem como a utilização de recursos sensoriais, que permitem ao indivíduo disléxico compreender melhor a forma e os sons atribuídos às letras. Esse método atua de forma preventiva, por permitir que as crianças sejam alfabetizadas partindo do micro, os fonemas, para o macro, as frases e os textos.

Entretanto, além de não se tratar de uma deficiência e, portanto, não estar incluída na Educação Especial, o professor sozinho não pode concluir um diagnóstico de dislexia sem o auxílio de profissionais designados pela Secretaria de Educação, como neuropediatras e psicólogos, envolvendo a burocracia. Assim, o diagnóstico da criança ou jovem com dislexia se dá, muitas vezes tardiamente, como no caso de Eder Carvalho, diagnosticado com dislexia aos 19 anos, que concedeu entrevista exclusiva à Capitolina. Um diagnóstico tardio pode afetar a vida pessoal, escolar e até mesmo profissional do indivíduo disléxico. Agora, cabe a pergunta: após um árduo período de adaptação, tanto na escola como socialmente, como fica a relação do disléxico com a literatura?

É possível que a depender do método utilizado na alfabetização, bem como o modo com que foi apresentada a leitura, o indivíduo com dislexia possua uma relação distante com as palavras em sua forma escrita. A literatura deve então assumir uma modelagem mais clara, interativa e simples. E por que não apostar na literatura de Cordel?

Criada no intuito de servir como veículo de informação, cultura e diversão, e vendida em forma de folhetos presos em barbantes ou cordas nas feiras e bancas de jornal – o que confere a nomenclatura ao gênero -, a literatura de Cordel é dotada de características simples e cativantes. Utiliza as mais variadas linguagens, o que é um convite à imaginação. Por meio de homens e mulheres que se transformam em autores e cantadores, é possível envolver-se intensamente com as narrativas, seja lendo ou ouvindo. Os sertões tornam-se interessantes palcos para aventuras e romances, escritos e passados com simplicidade, o que permite uma leitura lúdica e propicia a compreensão das histórias tanto pelos disléxicos como pela população em geral, como forma de inclusão e divertimento a todos nós, aproximando-nos da arte e abrindo nossas mentes ao cenário bucólico.