suas terras para comprar livros sobre as aventuras de cavalaria. Debatia com pessoas
do lugar quem seria o melhor dos cavaleiros, se Palmerim de Inglaterra ou Amadis de
Gaula. Um barbeiro do local dizia que nenhum deles chegava aos pés do Cavaleiro de
Febo e se a este pudesse algum ser comparado seria Dom Galaor, irmão de Amadis.
Assim, de tanto ler essas novelas, engolfado pelas aventuras dos audazes
cavaleiros, sobreveio-lhe uma espécie de loucura que fez nascer-lhe o desejo de ser
ele, também, um galante cavaleiro a defender a honra das donzelas e lutar contra
gigantes.
Seu nome gerou um pouco de controvérsia. Alguns dizem que seria Quijada,
Quesa da ou Quijana. O nosso bravo cavaleiro adotou o nome de Quijote (em
português Quixote). Um dia, depois de enlouquecer de tanto ler as novelas de
cavalaria, como se adentrasse às páginas dos livros, Alonso incorporou o personagem.
Uma armadura de um antepassado foi polida e o morrião (uma espécie de capacete
aberto) foi transformado em celada com a adição de um arremedo de viseira.
Preparou sua adarga (escudo de couro de forma ovalada) e sua lança. Faltava agora
um nome para seu cavalo, um rocim de sua fazenda, pois os grandes heróis tinham
cavalos nomeados tais como Babieca de El Cid e Bucéfalo de Alexandre, assim, depois
de muito pensar resolver batizá-lo com o nome de Rocinante. No entanto, um
cavaleiro andante teria que dedicar suas lutas a uma dama e sua escolha recaiu sobre
uma lavradora de um local próximo de nome Aldonza Lorenza, de quem ele estivera
enamorado sem que ela soubesse, no entanto, resolveu dar-lhe um nome mais
sonoro, digno de uma princesa, “Dulcinea D’El Toboso”. Tomadas essas providências,
montou o heroico cavaleiro em seu magricelo Rocinante e partiu de sua fazenda em
busca das aventuras dignas de um cavaleiro andante. Autodenominando-se “Dom
Quixote de La Mancha”.
Chegado a uma estalagem, já quase ao final do dia, avistou duas moças, que
seriam prostitutas do local, a quem tomou por duas damas da nobreza. O
estalajadeiro, um senhor gorducho, ao avistar tão inusitada figura, aproximou-se para
perguntar o que desejava, ao que Dom Quixote tomou-o pelo guardião do castelo. O
rotundo estalajadeiro ajudou-o a apear de seu cavalo e o cavaleiro ordenou que
levasse seu animal para a estrebaria e lhe desse água e alfafa.
Depois e fazer uma ligeira refeição, nosso herói, em seu delírio romanesco* 1 ,
sentiu que precisava ser armado como cavaleiro, conforme o costume da cavalaria.
No entanto, não havia capela no “castelo” e o bravo cavaleiro teve que velar suas
armas no pátio da estalagem, pois era obrigatório que as armas fossem veladas a
noite inteira para a sagração do cavaleiro na manhã seguinte. Ocorreu que um
viajante veio usar a água do poço e mexeu nas armas. Dom Quixote, dizendo vários
impropérios bateu com sua lança na cabeça do coitado, derrubando-o. O mesmo
ocorreu com um outro em seguida. Na manhã seguinte o estalajadeiro, querendo se
livrar daquela furiosa figura, tratou logo de sagrá-lo cavaleiro e desejou boas
aventuras.
1 Delírio romanesco - . Que abunda em aventuras próprias de romance. Que participa do romance.