1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 12
Partido Comunista Brasileiro, tem sido parcimoniosa, nos últimos
anos, na divulgação crítica de suas análises, diagnósticos e propostas da época. O volume agora publicado contribui inegavelmente
para sanar essa lacuna. A maioria de seus autores viveu parte desse
período na condição de militante do Partido Comunista Brasileiro
– PCB e debate a gênese do golpe, as controvérsias em torno da
estratégia da resistência ao regime e o processo de sua derrota e
superação a partir da perspectiva desse partido.
São muitas as questões relevantes que os autores deste
volume apresentam. Destaco, em poucas palavras, algumas entre
elas que me parecem de particular interesse.
Em primeiro lugar, transparece em vários dos artigos a afinidade do evento golpe militar de 1964 com a história brasileira do
século XX. O golpe não foi um fato isolado, que respondeu a uma
conjuntura de nova e maior complexidade, à qual o marco institucional da Constituição de 1946 não teria conseguido dar solução.
Pelo contrário, foi a manifestação derradeira e mais bem sucedida
de uma corrente golpista que atravessa todo o século XX.
Os antecedentes imediatos do golpe são conhecidos de todos:
a tentativa de impedir a posse de João Goulart, quando da renúncia de Jânio Quadros; os levantes de oficiais da Aeronáutica
durante o mandato de Juscelino Kubitschek, a tentativa anterior
de impedir sua posse; e, antes ainda, a ameaça de deposição de
Getúlio, que levou a seu suicídio. No entanto, é preciso reconhecer
que as raízes do golpismo situam-se ainda mais longe no tempo.
Para muitos autores de textos aqui reunidos remontam a 1930. Um
desses autores, no entanto, defende, com argumentos convincentes, a tese de que a história republicana como um todo, iniciada
por meio de um golpe militar, estaria marcada pelo signo do
golpismo, pela ideia de modernizar o país por meio de atalhos por
fora e acima da democracia. Março/abril de 1964 teria sido a realização tardia do sonho dos militares positivistas de 1889.
Em segundo lugar, chama a atenção, aos olhos de hoje, o
caráter relativamente moderado da agenda de reivindicações do
governo João Goulart. As então temidas reformas de base desloca10
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