se diz. Notam-se as deficiências do planejamento centralizado, da
falta de concorrência entre empresas e de renovação do maquinário.
Gastos excessivos na área militar, investimentos de menos na estru-
tura de produção. Diz-se que se fez uma socialização da economia
sem fazer a socialização da política: talvez nem isso tenha sido feito.
O sistema cava a própria cova, por impasses internos: quem não se
renova, morre. Deveria haver mais liberdade para criar empresas
mistas e serviços. No mercado, necessidades e bens se encontram e
se socializam: como ele ensina o que o povo quer, devia-se aprender
a ouvi-lo. Partidos comunistas, como representantes de um socia-
lismo real em crise, não têm mais chances. No terceiro mundo, as
diferenças sociais extremas levam a sonhar com igualdade. O socia-
lismo não foi um aborto da história, embora pareça. Como apache
da ciência, saúdo os irmãos: owgh!
Todos tiveram de rir com esse final: o dr. Altenberg gostava do
papel de bobo da corte, ironizando contradições em geral silencia-
das. Não era um risco calculado, na esperança de que não houvesse
algum informe secreto. Também não era que o dr. Altenberg contasse
com a sua imagem de bobo da corte ou que, devido à idade, supu-
sesse que nada mais tinha a perder. Tinha se acostumado a dizer
o que pensava, ele considerava urgente radicalizar teses: queria
salvar o socialismo através de reformas. Queria ganhar tempo
para o socialismo se reencontrar. Quanto menos tempo pressentia
haver, maior sua acidez. Ele criticava o socialismo real para preser-
var sua utopia humanista.
Vendo a seriedade das questões, o professor Ziembinski
interveio:
− Vou dizer algo que não se costuma dizer entre nós. O
marxismo se fez como frente de combate, para defender interes-
ses dos trabalhadores, mas ele perde o dente da dialética se fica
acomodado no poder. Ser radical, dizia Marx, é examinar as ques-
tões pela raiz. Temos de ver os fundamentos, as contradições nos
fundamentos. Examinando a história, Marx concluiu que a revolu-
ção das relações de produção ocorre sempre que a estrutura delas
impossibilita o desenvolvimento das forças de produção. Isso é
atribuir à história uma vontade de produtividade crescente.
A igualdade é uma necessidade do capital, para que todos possam
oferecer o que quiserem e todos possam comprar no mercado o
que quiserem e puderem. Valores como igualdade e liberdade são
aí vetores necessários para o funcionamento do sistema, assim
como a fraternidade serve para controlar a concorrência e a misé-
Utopia e realidade no socialismo de Estado
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