inimigas da Revolução. Daqui, a discussão se deu entre o controle
do Estado e este controle com a liberdade econômica. Para fazer a
transição ao socialismo, era preciso acumular, produzir, mas divi-
dir, segundo o Estado de orientação comunista, pela população.
O discípulo dileto de Lenin, Bukharin, tentou uma alterna-
tiva que era uma relativa continuação da NEP, enquanto que
Stalin e Trotsky cada vez mais apoiavam uma intervenção do
Estado na economia. Desta discussão nascerá a hegemonia do
stalinismo, a divisão do partido bolchevique (criticada, em uma
carta, por Gramsci).
Na medida em que a situação piorou, as hesitações de Trotsky
o prejudicaram. Além do mais, o camponês atacava progressiva-
mente os bolcheviques e Stalin usou este fato para fazer o mais
simples: forçar, pelo alto, a coletivização e implantar a partir daí
o seu poder. De 1928 (quando Trotsky e os trotskistas foram
exilados) a 1933, incluindo aí a questão da Ucrânia, Stalin foi de
uma ditadura simples para o culto à personalidade, que é a
forma de seu totalitarismo.
Para um artigo sobre a Revolução Russa é importante concluir
aqui até onde ela foi realmente Revolução. A Revolução Francesa
parece ter acabado quando Napoleão III deu o golpe de 2 de dezem-
bro de 1852, porque os interesses nacionais da França se torna-
ram dominantes e não o seu papel transformador de país revolu-
cionário. Trotsky, com o seu conceito de Termidor e dentro destas
discussões anteriormente citadas, afirmou que a Revolução Russa
acabou aí, com o totalitarismo stalinista. Concordamos com ele,
pois já não se tratava da Revolução, mas do predomínio de uma
figura sobre o movimento, agora estancado. Parafraseando um
outro comentário de Tolstoi a respeito de Napoleão no mesmo
texto, o francês, ao se tornar Imperador, passou a ser mais impor-
tante do que a Revolução. Com Stalin, mutatis mutandi, o movi-
mento comunista ficou refém da personalidade e se paralisou.
Trotsky esperava um retorno do impulso revolucionário, mesmo
na Rússia, mas este não veio até hoje.
Opiniões sobre a Revolução Russa
Para tratar da repercussão da Revolução e seus descaminhos,
escolhi dois autores, não só por serem entusiastas dela, mas para
mostrar como, dentro e fora da socialdemocracia, a discussão sobre
os seus fundamentos já existia desde o seu nascedouro: Lukács e
Revolução Russa: a distopia
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