100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 39

inimigas da Revolução. Daqui, a discussão se deu entre o controle do Estado e este controle com a liberdade econômica. Para fazer a transição ao socialismo, era preciso acumular, produzir, mas divi- dir, segundo o Estado de orientação comunista, pela população. O discípulo dileto de Lenin, Bukharin, tentou uma alterna- tiva que era uma relativa continuação da NEP, enquanto que Stalin e Trotsky cada vez mais apoiavam uma intervenção do Estado na economia. Desta discussão nascerá a hegemonia do stalinismo, a divisão do partido bolchevique (criticada, em uma carta, por Gramsci). Na medida em que a situação piorou, as hesitações de Trotsky o prejudicaram. Além do mais, o camponês atacava progressiva- mente os bolcheviques e Stalin usou este fato para fazer o mais simples: forçar, pelo alto, a coletivização e implantar a partir daí o seu poder. De 1928 (quando Trotsky e os trotskistas foram exilados) a 1933, incluindo aí a questão da Ucrânia, Stalin foi de uma ditadura simples para o culto à personalidade, que é a forma de seu totalitarismo. Para um artigo sobre a Revolução Russa é importante concluir aqui até onde ela foi realmente Revolução. A Revolução Francesa parece ter acabado quando Napoleão III deu o golpe de 2 de dezem- bro de 1852, porque os interesses nacionais da França se torna- ram dominantes e não o seu papel transformador de país revolu- cionário. Trotsky, com o seu conceito de Termidor e dentro destas discussões anteriormente citadas, afirmou que a Revolução Russa acabou aí, com o totalitarismo stalinista. Concordamos com ele, pois já não se tratava da Revolução, mas do predomínio de uma figura sobre o movimento, agora estancado. Parafraseando um outro comentário de Tolstoi a respeito de Napoleão no mesmo texto, o francês, ao se tornar Imperador, passou a ser mais impor- tante do que a Revolução. Com Stalin, mutatis mutandi, o movi- mento comunista ficou refém da personalidade e se paralisou. Trotsky esperava um retorno do impulso revolucionário, mesmo na Rússia, mas este não veio até hoje. Opiniões sobre a Revolução Russa Para tratar da repercussão da Revolução e seus descaminhos, escolhi dois autores, não só por serem entusiastas dela, mas para mostrar como, dentro e fora da socialdemocracia, a discussão sobre os seus fundamentos já existia desde o seu nascedouro: Lukács e Revolução Russa: a distopia 37