À beira do precipício pd51 | Page 164

no consumo de carne nos EUA e o mesmo começa a ocorrer em vários países da Europa Ocidental. Por outro lado, uma mentalidade anti-consumista vem se manifestando a cada dia, o que alimenta toda uma cadeia de produtos usados (brechós, bazares, instituições de caridade etc). Na Alemanha, por exemplo, antigos profissionais de ofícios, consi- derados superados pelo chamado avanço tecnológico, são convo- cados a prestar serviços como conserto e reciclagem de peças com potencial em estado ainda de funcionamento e que antes eram simplesmente lançados ao lixo, gerando desperdícios. E é interessante observar que esses homens e mulheres pres- tam tais serviços de forma voluntária, ajudando a formar mão de obra e também incentivando condutas solidárias. Isto atinge a própria lógica do sistema, que vive da reprodução contínua das mercadorias. O que isto significa senão uma política de controle de desperdícios e do lixo? Mas o tema da sustentabilidade vai além disso, até. Conforme destacou a profa. Tatiana Roque, em artigo publi- cado em O Globo, é possível encontrar soluções sustentáveis para questões aparentemente tão distantes uma das outras como a segurança alimentar e nutritiva, a energia, e também problemas relacionados à habitação, saúde, saneamento básico e ainda agri- cultura familiar, envolvendo toda uma dinâmica de geração de empregos. Aqui, chegamos a uma espécie de quarteto. Ou seja: sustentabilidade + emprego + conhecimento + democracia estão na base de toda e qualquer intervenção política moderna. Convém olharmos à nossa volta. Lojas de consertos de roupas se multiplicam, lojas comerciais oferecem vantagens para quem levar até elas peças já usadas e vendidas por elas. Por outro lado, a crise econômica abriu espaços para soluções compartilhadas. Um exem- plo? Reutilização de materiais escolares. Outro? Centros religiosos, Ongs e organizações do gênero solicitam a seus filiados guarda- chuvas, meias velhas e roupas em geral usadas para confecção de sacos de dormir e outros utensílios de proteção ao corpo. Há uma revolução em marcha, silenciosa, que possui sua própria linguagem e recusa o clichê das propostas gastas ou que pouco sentido têm hoje em dia. Na verdade, há um mundo de elei- tores que se vinculam a este processo e esperam ver suas deman- das estimuladas pelas administrações centrais ou locais. Neces- sário se faz ter consciência destas mudanças e contribuir para 162 Cleia Schiavo Weyrauch