À beira do precipício pd51 | Page 140

Em 2016, a Comissão de Direitos Humanos de Nova York oficializou o reconhecimento da multiplicidade das identidades de gênero, de forma que 31 diferentes nomenclaturas de gênero foram reconhecidas por lá. Esta abertura em relação às identidades de gênero vai muito além da transexualidade, de forma que até mesmo a sigla LGBT passou a não ser suficiente. Esse novo movimento importa na exacerbação da subjetividade dos indivíduos, de forma que novas categorias precisam surgir para expressar a ideia que cada indi- víduo possui sobre si mesmo. A afirmação de que o gênero não é binário e de que na verdade existe um espectro de gêneros, perpetrada por algumas teóricas feministas contemporâneas e demais membros de movimentos progressistas, toma por consequência o entendimento de que não existe uma quantidade numeral exata de gêneros, mas uma infi- nidade, a depender das características e modos como cada pessoa se sente e se apresenta. No entanto, o fato de o gênero poder ser expresso de centenas de formas, a depender da personalidade e dos gostos de cada pessoa, não deve significar que existam centenas de gêneros, mas apenas que existem centenas (milhares, ou milhões) de personali- dades e de formas de se expressar um gênero. Ou seja, o fato de uma mulher não se sentir à vontade com o estereótipo atribuído às mulheres e preferir apresentar-se com características socialmente atribuídas aos homens, não faz com que ela deixe de ser mulher e se torne um homem, tampouco faz com que surja uma nova cate- goria de gênero para enquadrá-la. E caso ela realmente se sinta e se identifique como um homem, parece-me que a categoria “homem transexual” se mostra perfeitamente adequada para enquadrá-la. A perspectiva de criar dezenas ou centenas de gêneros é fruto de um subjetivismo acentuado, no qual certos extratos da socie- dade têm mergulhado de cabeça, sem pensar nas possíveis impli- cações de tais inovações. É preciso observar que tal permissão para o subjetivismo tem aberto espaço para que este se insira em outras formas de expressão pessoal, como a expressão etária, o que configura verdadeiro dispa- rate tendo em vista que a idade é um fato biológico que não pode ser contornado. Não é possível consentir com a ideia de que a idade seja apenas um número que pode ser escolhido arbitrariamente. 138 Renata Marim Hahon