Desigualdade histórica
Chris Quintiliano
O
Brasil, como é sabido, foi o maior e mais longevo império
escravocrata do mundo moderno. Calcula-se que pelo cais
do Valongo tenham passado, em três séculos de importa-
ção de seres humanos, algo em torno de 1 milhão de escravos, de
acordo com a EBC. Quando do processo de abolição da escravi-
dão, este foi feito sem políticas de integração e educação, ou inde-
nização dos libertos. Pelo contrário, a estrutura latifundiária foi
mantida, a qual era a base da economia do Império. Nossa econo-
mia, que continuaria agrária até meados do século XX, baseada
em plantation, não demandava mão de obra especializada, e a
pouca necessária foi importada num processo de imigração de
mão de obra livre, da Europa, dentro de um projeto de política
estatal de “embranquecer" a população brasileira, no contexto das
teorias eugênicas, as quais legavam ao negro o carimbo de menor
desenvolvimento intelectual e mais aptidão para a força.
Em 1937, o Estado Novo proíbiu a imigração e obrigou as
empresas a contratarem 2/3 de sua mão de obra entre brasileiros,
e a situação foi, aos poucos, se modificando. A Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) provocou intensa migração interna no
Brasil, atraindo mão de obra para São Paulo e Rio de Janeiro, na
verdade trabalhadores em busca da segurança das leis trabalhis-
tas, as quais ainda não se aplicavam, de fato, nas regiões latifun-
diárias, como Nordeste e Norte do país.
Diferentemente dos EUA, que desde a luta pelos direitos civis,
a qual começa na década de 50 do século XX, e começa a cons-
truir uma classe média negra, no Brasil, ainda hoje, negros ou
pardos ainda são somente 17% da classe média brasileira, de
acordo com o IBGE, enquanto são 3/4 da população mais pobre,
devendo-se considerar que 54% dos brasileiros são negros e
pardos. Mulheres negras – que são 1/3 da população – ganham
em média 60% menos que homens brancos.
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