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Por Luíse Gomes
No dia 25 de fevereiro de 2019, segunda-feira, eu e
mais cerca de trinta colegas nos dirigimos, às 20
horas, para a aula de Direito Administrativo
Interdisciplinar. Até então, ninguém tinha muita
ideia de como seria a matéria, pois nunca
havíamos ouvido falar do
professor. Esse
desconhecimento, no entanto, durou pouco
tempo. Logo o professor começou a dizer que era
absolutamente proibido utilizar aparelhos
eletrônicos em sua aula, devido ao incidente
ocorrido em 2014, cujo resultado foi um vídeo de
sua “aula” divulgado no YouTube . Além disso,
distribuiu para todos os alunos cópias de um
texto que expunha sua linha de pesquisa
acadêmica, seu posicionamento político e seus
ideais.
questionamento também martelava a cabeça de
vários outros alunos presentes naquele evento,
enquanto o professor realizava uma interminável
chamada e nos cobrava para que acessássemos o
conteúdo de seu blog (não em aula, é claro, pois
deveríamos prestar atenção na chamada,
bemcomo nas incentivadoras e motivadoras
informações sobre sua vida pessoal).
Nós, alunos da Faculdade de Direito do Largo de
São Francisco, aqui ingressamos e logo nos
deparamos com rodas de conversa sobre formas
de combate ao preconceito e direito de minorias
histórico-sociais. É confortável pensar que
estamos num ambiente em que as pessoas se
preocupam com igualdade, ainda que muitas
vezes o discurso não se concretize na prática. Mas,
de repente, você, cansada, depois de um longo
dia, iniciado há mais de 12 horas, dirige-se à sua
sala de aula e se vê obrigada a lidar com um
professor que não tem o menor pudor em dizer (e
escrever) que pobres são invejosos, que devemos
exaltar a burguesia, que família é aquela
instituição formada por um homem e uma
mulher da mesma etnia e, por fim, que a
esquerda é a escória da sociedade.
É bem verdade que a liberdade de expressão é
um direito consagrado pelo ordenamento
jurídico brasileiro. Esse direito, porém, não é
absoluto. Já dizia o ditado: “A minha liberdade
termina onde começa a do outro.”, e esse limite é
expresso, justamente, pelo combate ao discurso
Eduardo Lobo Botelho Gualazzi é professor
associado da Faculdade de Direito da USP,
apoiador da campanha presidencial de Jair
Bolsonaro, adepto da ideia de que família é
necessariamente uma instituição formada por
um homem e uma mulher de mesma etnia e
admirador da ditadura militar. O tal vídeo aqui
mencionado foi gravado por um (a) aluno (a),
durante uma aula ministrada pelo ilustríssimo
professor em 2014, denominada “Continência a
1964”, em homenagem aos 50 anos do golpe
militar.
“Onde eu estou?”, pensava eu comigo mesma, de
forma
incessante.
Acredito
que
esse
31/03/2019
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