Weggan Fevereiro 2019 | Page 21

W- Viveste numa quinta com animais, qual foi a tua relação com eles?

R - Cresci num meio rural onde sempre contactei muito com animais, tivemos muitos animais em casa e eu tinha uma relação muito forte com eles e havia uma grande comunicação entre nós. Tinham todos personalidades e gostos diferentes entre si e demonstravam isso muito bem, portanto para mim a questão de “será que sentem?” nunca se colocou e estive sempre ciente que tudo o que lhes fizesse teria uma consequência.

Vivi a minha infância rodeada de vizinhos que criavam animais para o próprio consumo e cheguei a assistir à morte de vários animais e a revolta era tanta que passava dias a imaginar planos com as minhas amigas para soltar os animais todos.

Fui crescendo e percebendo que todos estamos em patamares evolutivos diferentes e nem toda a gente tem a consciência do que é de facto um animal, para muita gente são peluches que mexem, mas para mim sempre foram seres tão únicos na sua individualidade que é impossível para mim um gato ser só um gato, é um indivíduo, é um ser tão sensível como eu e que tem tanto direito à vida e ao bem-estar como qualquer outra pessoa.

W- Sendo tu a terceira geração vegetariana o que te levou a mudar para vegan?

R - Há 10 anos ouvi falar pela primeira vez sobre o veganismo e confesso que na altura achei ser uma forma de vida extremista e acreditei que, como nasci vegetariana e nunca um animal deu a vida para me alimentar, não preciso de fazer mais nada, afinal uma vaca não tem de morrer para dar leite nem uma galinha para dar ovos. Como os exemplos que me rodeavam (à parte do consumo da carne, claro) nunca me pareceram mal, comprávamos ovos à vizinha e as galinhas dela andavam sempre à solta e eram felizes e confiantes, aquilo para mim era a realidade. O mesmo com a questão das vacas felizes que pastam o dia todo e são mugidas por alguém que cuida delas quando têm excesso de leite.

Só há poucos anos, com o aparecimento das redes sociais e com a divulgação dos horrores da indústria do leite é que me confrontei com a realidade da exploração animal em grande escala. Comecei por ir abandonando os laticínios aos poucos, na verdade a partir dos 16 anos comecei a sentir-me mal sempre que bebia leite, e optei por consumir apenas os ovos das galinhas lá de casa que eram sempre tratadas com beijinhos e nunca seriam comida.

Lembro-me perfeitamente do dia em que o meu bebé nasceu, eu comecei a aventura da amamentação e toda aquela ligação entre uma mãe e o bebé, toda aquela intimidade e ternura e lembrei-me das vacas na mesma situação que não têm a oportunidade de vivenciar aquilo porque lhes roubamos, com a nossa ganância, esses momentos tão sagrados e não consegui continuar a compactuar mais com isso.

A questão da roupa, do uso de peles e dos produtos testados em animais já há muito tempo que tinha eliminado da minha vida.

20