Essa sociedade hipermobilizada é usada por "alguém que vem de t;-)ni para corrigir o sistema". o elenco de falsos outsiders inclui Hitler, Mussolini, Fujimori, Chávez. Todos chegaram ao poder a partir de dentro, via elei-ções ou alianças políticas poderosas. "As elites acreditaram que o convite para exercer o poder conteria o outsider, levando a uma restauração ii:L controle pelos políticos estabelecido mas seus planos saíram pela culatra", contam Levitsky e Ziblatt. "Uma mistura letal de ambição, medo e cálculos equivocados conspirou para levá-las ao mesmo erro: entregar condescendentemente as chaves do poder a um autocrata em construção." E como identificar um político que, tão logo assuma o poder, tentará dissolver os instrumentos democráticos? Para a dupla de cientistas, que estudou todos os autocratas dos séculos 20 e 21, de Hitler a Duterte, passando por Perón e Putin, há quatro principais indicadores: 1) rejeição das regras democráticas do jogo; 2) negação da legitimidade dos oponentes políticos-! 3) tolerância ou encorajamento à vio lência; 4) propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a , mídia. Se observar esses traços em um candidato, há grandes chances de que. se eleito, você não vote nas próximas eleições — porque elas nem existirão.
DOENÇA E CURA
No livro Contra as Eleições (Àyiné), historiador holandês David van Revbrouck conclui que a população mundial entendeu que as eleições não são um instrumento inquestionável para a formação das assembleias, o que é um sintoma do que chama de síndrome da fadiga democrática". Além do cada vez menor comparecimento dos eleitores nas eleições europeias, os cidadãos demonstram-se cada vez menos fiéis a um partido. E não apenas a legitimidade da democracia entrou em crise: também sua eficiência sofre
manifestantes gregos em 2011 e muitos que foram às ruas nas Jornadas de Junho de 2013 no Brasil.
O holandês diferencia "eleições" (1£z "democracia" e remete-nos aos primórdios desse sistema de governo, na Grécia Antiga. Além de a Grécia ter escravos e restringir o voto a homens, todas as funções da República eram atribuídas por sorteio... inclusive juízes! O objetivo era neutralizar a corrupção. As funções eram atribuídas por um ano, e não havia reeleição. Os cidadãos se revezavam em funções em todos os níveis. Para funções financeiras e militares, porém, eram escolhidos os mais competentes. Para Aristóteles, a definição de democracia passa pela ideia de sorteio. Não era todo o
povo que sorteado dos eram rnocracia
tinha voz, mas um grupo — 500 dos 700 magistra-escolhidos assim. Uma de-representativa aleatória.
150 governos diferentes após Mussolini) — e os governos não governam: para fazer uma simples ponte, ficam atados à dívida nacional, à legislação, às agências reguladoras, às multinacionais e aos tratados internacionais. Van Reybrouck tem leituras curiosas para a crise. "A culpa é dos políticos" é o diagnóstico do populismo e o remédio é uma representação popular, de Berlusconi a Le Pen, passando por partidos Identitários e nacionalistas. "A culpa é da democracia" é o diagnóstico da tecnocracia: e aí temos soluções como a de Cingapura, país linha-dura governado por um presidente-CE° que pratica tolerância zero contra a Corrupção e proíbe manifestações políticas pú-blicas. "A culpa é da democracia representativa", afirmam os defensores da democracia direta — o movimento Occupy, os Indignados espanhóisdo 15- M, os