{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Page 17
{
}
{sala de aula}
autores do movimento. Quanta frustação! Não com a
Literatura, é óbvio, mas com a professora. Fiz várias
leituras de livros que me foram possíveis e buscava
informações para além do conteúdo ministrado por ela.
Um dia a professora teve a ideia de montar uma
biblioteca de obras literárias na escola. Pensei: Nossa,
que ótimo! Só que todos os alunos tinham que
contribuir, obrigatoriamente, com um valor “x” mensal
para comprar os livros, pois valia ponto na média final.
Até aí, tudo bem. Montou-se, devagar, a tal da
biblioteca. Só que eram pouquíssimas as produções de
escritores da Literatura e em grande quantidade os best-
sellers . Não entendia muito a razão da desproporção. O
pior viria: não podíamos pegar os livros nem para ler na
escola e muito menos levar para casa. Os livros ficavam
em uma sala na qual os alunos não tinham acesso. Os
meus colegas nem ligavam; eu ficava indignada. Embora
considerada como a grande professora de Literatura, o
modo como as aulas eram ministradas e como era
interposta a distância entre os livros e os leitores
nortearam-me sobre que tipo de professora de Literatura
que eu não deveria ser.
Na Graduação tive um professor – vou dizer o
nome dele: José Batista de Sales – com quem
dialogava muito sobre autores e obras da Literatura.
Ele me possibilitou, talvez sem saber, ampliar e
reforçar os caminhos que eu queria. Com ele, aprendi
a ler e a analisar poesia. Adentrei por corixos literários
e fui “apresentada” a poesia de Manoel de Barros,
poeta objeto de estudo no Mestrado, no Doutorado e
sobre o qual até hoje desenvolvo projeto de pesquisa.
Ah, o mais interessante de tudo isso é que aquela
professora na quarta série – e vou dizer quem é:
Celina Nascimento – e o professor José Sales, hoje
aposentados, foram meus colegas de trabalho durante
anos no Curso de Letras da UFMS. São as
aprendizagens do passado que ecoam em mim e que
me movem como docente.
E como docente, tento – espero que eu sempre
consiga – trazer para o brilho dos olhos de meus
alunos o poder humanizador da Literatura. Cada aula
que ministro sempre t em o intuito de mostrar o quanto
de beleza há nas palavras arquitetadas pelo escritor, o
quanto a Literatura é escrita pelo homem para tratar do
homem em todas as suas nuances. Ela é capaz de nos
fazer penetrar no âmago do homem, desvendá-lo na
sua profundeza, aborda a miséria humana da maneira
iluminadora e até redentora, poder que só a Literatura
e a Arte possibilitam. Desse modo, em cada olho em
que vejo um brilho, sinto-me gratificada. Prossigo
caminhando com muitos desses alunos da graduação,
que também envolvidos pela beleza da arte literária
tornaram-se mestres e doutores, atuando como
professores de Literatura em instituições de ensino.
Uma certeza me move: também eles poderão abrir
portas e janelas para arejar o nosso mundo caduco.
Profissão escolhida, segui os estudos da
graduação em Letras, na UFMS. Tive que cursar as
disciplinas da grade curricular, embora só quisesse me
dedicar as da área de Literatura. Aprendi muito, em
especial com as disciplinas de Linguística (tive um
professor muito bom, que exigia muito estudo), de
Língua Portuguesa (que maravilha de professora e de
aulas que tive! Muitos ensinamentos sobre a estrutura
da língua), de Latim (que professora espetacular, até
pensei em ser professora de Latim) e as de Literatura:
Literatura Portuguesa (professor que nos cobrava a
leitura de muitos romances por ano; pena que não
focava a poesia) e Literatura Brasileira (aí meu coração
explodia de tanta felicidade!). E a Literatura dominava o
meu ser!
{voz da literatura} n. 2 | junho | 2018
{17}