{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Page 12

{ } {entrevista} já me vali de antigas máquinas de leitura de microfilmes fabricadas na extinta República Democrática Alemã e de mais modernos equipamentos computadorizados, que, a princípio, forneciam cópias impressas e hoje permitem a produção de arquivos digitalizados. Em alguns casos, a leitura é antes um trabalho de decifração... Gostaria de lembrar também de Marisa Lajolo, autora de um ensaio pioneiro sobre a literatura paradidática de Bilac. Ivan Teixeira, recentemente falecido, Felipe Fortuna, Paulo Franchetti, Regina Zilberman e Luís Austo Fischer produziram trabalhos esclarecedores para o estudo do poeta parnasiano. Tenho também notícia de jovens pesquisadores como Emmanuel Santiago e Robson Teles Gomes que atualmente se interessam pela obra de Bilac. Desde seu doutorado, você se dedica à obra de Olavo Bilac. Poderia nos dizer quem foi o Bilac jornalista? Entre outras coisas, você se dedicou a pesquisar os efeitos de livros de poesia do decadentismo- simbolismo português em periódicos cariocas. Poderia contar um pouco sobre os resultados dessa pesquisa e sua relevância para a historiografia literária brasileira? Quando jovem, o poeta da Via Láctea sonhava em dedicar-se exclusivamente à literatura. Porém, o abandono do curso de Medicina levou-o a romper com o pai, médico que atuara da Guerra do Paraguai. Sem recursos para sobreviver, aceitou o cargo de revisor que lhe ofertou José do Patrocínio, diretor do diário Cidade do Rio e líder de um grupo de intelectuais boêmios. A rigor, porém, seu ingresso no jornalismo ocorreu no ano de 1887 em S. Paulo, onde tentava cursar Direito. De 1887 a 1908, abraçando definitivamente o jornalismo, colaborou em todo tipo de periódico, dos jornais diários às revistas ilustradas, chegando inclusive a fundar periódicos como A Rua (1889), O Combate (1892), A Cigarra (1895) e A Bruxa (1896-1897). Sua produção foi extremamente diversificada, dedicando-se tanto à crônica de amenidades quanto ao jornalismo mais combativo. Trata-se de uma pesquisa ainda em andamento, com a qual tenho vasculhado periódicos do Brasil e de Portugal em busca de apreciações críticas e até meras notícias sobre o decadentismo-simbolismo no final do século XIX. Tenho estudos bastante adiantados sobre o decadentismo-simbolismo português (1890-1893) e sobre a recepção na imprensa da obra de Cruz e Sousa (1893-1905). Tudo se originou da vontade de compreender melhor as razões pelas quais uma obra de inquestionável valor como a do assim chamado Dante Negro não encontrou uma ressonância condigna junto aos seus contemporâneos. Tenho razões para acreditar em que serei bem sucedido no empreendimento. O que ainda pouco se sabe sobre essa faceta de Olavo Bilac? Por que vale a leitura de seus artigos jornalísticos? Sua pesquisa estende-se também pelas relações entre “imprensa e literatura” na contemporaneidade? Antonio Dimas já publicou obras definitivas sobre o Bilac jornalista, mas ainda há a possibilidade de estudarem-se produções específicas como as sátiras e artigos escritos contra Floriano Peixoto. Durante 20 anos, Bilac foi um observador atento da vida brasileira e testemunhou episódios fundamentais da nossa história como a Abolição, a Proclamação da República, a Revolta da Armada, a Guerra de Canudos e a Revolta da Vacina. Se, por um lado, foi um opositor incansável do assim chamado Marechal de Ferro, deu, por outro lado, apoio incondicional governo republicano quando este se viu ameaçado por golpes ou levantes populares. Não, embora seja esse um tema fascinante, inclusive pelas possibilidades de comunicação abertas pelos modernos recursos de informática. Deve-se, porém, ressalvar que a imprensa tradicional, - jornais e revistas impressos, - tem restringido cada vez mais o espaço reservado à literatura, o que é lamentável. Qual avaliação você faz da preservação documental dos periódicos antigos e fora de circulação no Brasil? Há tanto motivos para consternação, quando se ouvem histórias acabrunhantes sobre o estado de conservação de determinados acervos, quanto para júbilo, em virtude de projetos específicos de conservação e organização de acervos realizados por instituições privadas e principalmente públicas, - neste caso vinculadas às universidades brasileiras. Além de você, quais são os principais pesquisadores sobre a obra de Bilac no Brasil? Em primeiro lugar, deve-se citar, pela qualidade e abrangência das obras já publicadas, Antonio Dimas. {voz da literatura} n. 2 | junho | 2018 {12}