{voz da literatura} {2} {voz da literatura} junho de 2018 | Page 11

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{ entrevista }
IMPRENSA E LITERATURA

ALVARO SANTOS SIMÕES JR., PROFESSOR DE LITERATURA BRASILEIRA { UNESP }

É, desde 1998, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista( UNESP), campus de Assis. Em 2010, tornou-se pesquisador do CNPq. Publicou, pela Editora da UNESP, os livros A sátira do Parnaso( 2007), Estudos de literatura e imprensa( 2015) e Bilac vivo( 2017). Além dessas publicações, reuniu crônicas de Olavo Bilac na obra Registro: Crônicas da Belle Époque Carioca( Campinas: Ed. da UNICAMP / FAPESP, 2012) e, no livro Sátiras( Lisboa: CLEPUL; FCT, 2017), recolheu textos publicados na imprensa pelo poeta parnasiano.
Boa parte de sua produção acadêmica está relacionada ao tema“ imprensa e literatura”. Como chegou a esse campo de pesquisa?
Tudo começou em fase preparatória para o Mestrado. Naquela altura, interessei-me pelos versos de circunstância de Olavo Bilac, especialmente pelos
Pimentões( 1897), escritos a quatro mãos com Sebastião Guimarães Passos. Descobri então que os textos eróticos e humorísticos do livro tinham sido publicados originalmente em uma seção da Gazeta de
Notícias intitulada“ O Filhote”( 1896-1897) e, assim, minha dissertação acabou versando sobre a participação de Bilac nessa seção. Como“ O Filhote” era um“ jornal” paródico colocado no canto superior direito da primeira página da folha dirigida por Ferreira de Araújo, comecei com esse estudo a conhecer as convenções jornalísticas do final do século XIX e a intensidade das“ trocas” entre literatura e jornalismo nesse período.
Nesse universo“ imprensa e literatura”, há uma vertente de pesquisa dedicada às fontes primárias em periódicos antigos, em verdadeiro trabalho de garimpagem. Como é esse processo?
A literatura brasileira da segunda metade do século XIX e início do século XX correu pelo leito dos periódicos, fossem eles jornais diários, hebdomadários ilustrados, revistas literárias ou de entretenimento. Os escritores brasileiros publicavam nesses veículos contos, poemas, romances-folhetins e, principalmente, crônicas de vária natureza. Desse modo, os periódicos se configuram hoje como um rico manancial de fontes primárias para o estudo da história literária, do que resultam novas produções
críticas e até mesmo edições de inéditos e dispersos de autores relevantes para a literatura brasileira. Cabe assinalar, por exemplo, que clássicos como Memórias de um sargento de milícias, de M. A. de Almeida, O guarani, de J. de Alencar, Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba, de M. de Assis, foram“ experimentados” em periódicos antes de conhecerem uma versão,- às vezes bastante modificada,- em livros.
Quais desafios você enfrentou ao trabalhar com fontes primárias durante um período em que boa parte do acervo de bibliotecas públicas e hemerotecas não estavam ainda digitalizados?
Para quem, como eu, vive e trabalha no interior, havia significativas dificuldades de acesso aos periódicos, que eram consultados a partir de cópias microfilmadas fornecidas principalmente pela Biblioteca Nacional. O Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa( CEDAP) da UNESP / Assis foi formando ao longo do tempo, graças a investimentimentos dos programas de pós-graduação em Letras e História, um acervo de periódicos como a Gazeta de Notícias e O Estado de S. Paulo. Além disso, pesquisadores como eu fizeram pedidos de financiamento às agências de fomento e enriqueceram o acervo com doações. Assim, o CEDAP recebeu, por exemplo, coleções fragmentadas de A Notícia, Correio da Manhã, A Bruxa e A Cigarra, para citar apenas periódicos cariocas. Em virtude de necessidades de pesquisa, era inevitável também fazer longas viagens – de ônibus!- para consultar os acervos mais ricos da própria Biblioteca Nacional, Arquivo do Estado de S. Paulo, biblioteca Mário de Andrade, os institutos históricos e geográficos de S. Paulo e Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, UNICAMP etc. No quarto de século a que me dedico aos periódicos,
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