“Concede-me a vida – é o meu pedido – e a vida de meu povo – é o meu desejo. Porque meu povo e eu fomos vendidos para o extermínio, a matança e a destruição” (Est 7,3-4).
Ela pede por ela mesma, pede por seu povo, expõe sua condição de escrava e parte de um povo escravo. Ester lança na mesa os crimes reais, profetiza contra o rei. Desnuda a injustiça.
Esta é uma das tantas histórias bíblicas que revelam o poder feminino de crítica social. Utilizando de sua beleza e do encanto do rei, Ester burla o controle real masculino e salva os seus iguais. A salvação de um povo nas mãos de uma jovem escrava e órfã. Quantas Ester pelo mundo? Quantas mulheres salvadoras de seus filhos e filhas, profetizas de uma vida nova para si mesmas e para seu povo?
Ester salva seu povo sem uma gota de sangue derramada, mas quantas mulheres sangraram para que a vida pudesse brotar novamente entre o concreto da realidade que sufoca toda nova forma de vida, toda liberdade e toda forma de amor?
O Deus todo-poderoso invencível e dominador pouco aparece na narrativa de Ester, parece não responder aos apelos da jovem judia, um deus pouco interessado. O relato de Ester, perante os outros profetas, é pouco divino e muito humano; Ester resolve sozinha o dilema de seu povo, no texto praticamente abandonado à própria sorte. Assim a história de tantas outras mulheres: abandonadas pela divindade masculina e perseguidas por seus representantes na terra.
Irmã, já leu a Bíblia hoje? Ela tem histórias feministas. É só descobrir.
Salve a profeta Marielle, a profeta Zilda Arns, a profeta pajé Yawnawá, a profeta Dandara, a profeta Stella de Oxóssi, a profeta Laudelina, a profeta Carolina de Jesus, a profeta Diva Guimarães, a profeta Anastácia. Profetas negras, profetas lésbicas, profetas trans, profetas da educação, profetas da liberdade, profetas do amor.
“Protege-me, pois estou só e não tenho outro defensor além de ti” (Est 14, 3).
Ester ergue um clamor que infelizmente esteve nos lábios de tantas outras mulheres da história.
Ester é profeta de uma mulher lançada pela história e pela sociedade nos braços de um poder masculino, subjugada, vendida, exposta, indefesa. Tantas mulheres que levantaram seus olhos a Zambi, Tupã, Yaweh, Oxalá, Cristo, Oxum, Iemanjá, Iansã, Nanã, Obá, Lakshmi, Durga, Kali, Jaci e Guaraci.
A jovem judia decide utilizar de seu poder real e comparece perante o rei. Ester solicita um banquete, o rei encantado pela presença de sua rainha cede e mais tarde comparece ao jantar solicitado pela jovem. Durante o jantar o rei deseja conceder a Ester tudo o que ela lhe pedir.
setembro UMBANDA Saravá 36