Glossário
Praia parte não vegetada da barreira ( lado do oceano ), afetada por ondas e marés
Duna parte vegetada da barreira , ao lado da praia , afetada principalmente pelos ventos
Sapal parte vegetada da barreira ( lado lagunar ), afetada pelas marés
Fotografia aérea vertical Fotografia captada por uma aeronave , orientada para baixo ( eixo da câmara direcionado para o solo , o mais verticalmente possível ), adequada para mapeamento de morfologias e ambientes sedimentares
O termo Resiliência foi definido como “ a capacidade de um sistema para absorver perturbações e reorganizar-se enquanto passa por mudanças , mantendo a sua identidade e a sua estrutura ” ( Walker et al ., 2004 ). Os sistemas complexos , sejam ecossistemas , economias , ou outros , adaptam-se às alterações dos fatores externos passando por um conjunto de fases , que inclui a destruição “ criativa ” e o crescimento rápido ( Gunderson and Holling , 2002 ). A velocidade pela qual os sistemas passam pelas diversas fases depende de fatores externos ( estímulos ) e das características internas do sistema . Sabemos que as mudanças são uma constante dos sistemas naturais , sendo a destruição uma parte dessa evolução , não existindo uma " solução " ou um “ estado ” únicos que determinem um sistema resiliente . Assim , o nosso objetivo neste trabalho foi a aplicação destes conceitos à geomorfologia costeira , através do desenvolvimento de um método que permite a avaliação da resiliência costeira , que aplicámos ao sistema de ilhas barreira da Ria Formosa .
As ilhas barreira são faixas de areia ou de cascalho que se desenvolvem ao longo do litoral , separadas de terra por uma lagoa costeira pouco profunda ( Stutz and Pilkey , 2002 ) - esta é portanto a sua identidade . Nestas ilhas podem existir vários ambientes sedimentares , sendo os principais as praias , as dunas e os sapais ( Davidson-Arnott , 2009 ) – definindo assim a sua estrutura . Daí , seguindo a definição da resiliência , uma barreira resiliente é aquela que , durante a sua evolução , em resposta a estímulos externos , mantém a sua identidade e a sua estrutura . Para quantificar a resiliência costeira , usámos características morfológicas das ilhas barreira para determinar as três dimensões principais : Latitude , Resistência e Precariedade , definidas como :
1 ) Latitude : relaciona-se com a modificação máxima que o sistema pode suportar até perder a sua capacidade de recuperação . Definimos latitude como a largura da barreira ( soma de todas as partes que compõem a sua estrutura : largura de Praia + Duna + Sapal ; Fig . 1 ).
2 ) Resistência : mede o quão resistente à mudança é o sistema . Definimos como indicador de resistência a elevação da duna ( Fig . 1 ).
3 ) Precariedade : determina a proximidade a um “ ponto-de-não-retorno ”, após o qual a reorganização seria impossível ou muito difícil .
Obtém-se através da medição da distância do sapal até terra ( Fig . 1 ), porque quando as ilhas barreiras se unem à terra perdem permanentemente a sua identidade . Para podermos quantificar a resiliência de um sistema é necessário estudar a evolução das três dimensões da resiliência ( definidas anteriormente ) e da estrutura da barreira ( conjunto dos ambientes Praia- Duna-Sapal ) ao longo do tempo . À projeção combinada das várias dimensões da resiliência pelo tempo chamámos trajetórias de resiliência .
Para testar esta abordagem à escala de décadas , analisámos a evolução de um sector em Cabanas-Cacela ( Fig . 2 ), localizado no extremo leste do sistema de ilhas barreira da Ria Formosa . Para esta análise usámos fotografias aéreas verticais , mapas e levantamentos topográficos para o período entre 1952 e 2011 .
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