ENTREVISTA
N ’ Os Fora da Casca , os jovens são basicamente o nosso público-alvo . É para os jovens que nós trabalhamos e queremos acima de tudo , mais do que dar informação , queremos dar espaço para que eles formulem a sua opinião sobre as coisas e que exista um espaço de segurança e de confiança para o fazerem sem medos de dizer algo que possa ser errado daqui a 2 ou 3 dias . Porque no fundo a nossa opinião está sempre a mudar tendo em conta aquilo que vamos recebendo . E nós sentimos , enquanto Os Fora da Casca , que existem poucos espaços para conseguires debater , ouvir a opinião dos outros e formular a tua consoante o que vais ouvindo . Eu sou completamente apaixonada por trabalhar na área juvenil porque tive muita sorte na escola onde estudei . A minha voz sempre foi muito ouvida e a minha ação também , mas sei que isso não é a realidade de todos os jovens - muitos jovens chegam aos seus 30 anos sem nunca terem sido realmente ouvidos , sem a sua opinião ter tido uma consequência . Porque a verdade é essa , não é só ouvir a opinião , é dar uma consequência , dar uma ação associada a essa opinião . Acho que o papel do jovem é central , mas é importante saber que o jovem europeu , o jovem americano e o jovem do sul global têm papéis diferentes na sociedade . E nós também queremos trabalhar em prol disso , dessa educação para o desenvolvimento , para sabermos que o nosso papel no mundo e a maneira como eu estou aqui agora é muito diferente de uma pessoa com a minha idade , mas que nasceu em contexto africano ou da América do Sul . A minha posição de privilégio está muito assente em todo o meu papel na sociedade e é importante ter isso em consideração .
Hoje em dia os jovens são conscientes para as questões ambientais ou acreditam que ainda falta fazer algo na educação ? Não tenho dúvidas nenhumas de que existe uma consciência ambiental muito forte , porque consciência ambiental significa saber o que está a acontecer . Acho muito difícil tu abordares um jovem na rua , falares sobre alterações climáticas e ele não saber do que estás a falar . As pessoas sabem , os jovens sabem . Agora , se tu me perguntares se existe um excesso de informação alarmista que pouco te ajuda a agir ? Isso eu concordo . Porque é muito difícil para um jovem de 12 anos , ou 15 , ou até 18 anos , ouvir falar sobre os desastres climáticos que estão a acontecer a nível mundial , saber que a grande causa é antropogénica , saber que nós todos temos que mudar o que comemos , a forma como nos transportamos e todas as indústrias , tanto a têxtil , como todas as outras indústrias das quais nós dependemos numa sociedade capitalista . Tudo isto para um jovem que nunca votou , que provavelmente nunca participou num debate na escola , que se calhar nunca desenvolveu uma atividade de raiz na sua comunidade , uma atividade de voluntariado , o que seja . Dizeres isto e não dares ferramentas para agir é um pouco hipócrita . Como é que aquele jovem vai agir ? Vai estar condicionado pelo excesso de informação e pela falta de ferramentas para agir . Portanto , eu acho que existe consciência . Isso não tenho dúvidas nenhumas . Eu acho que se tu falares com qualquer pessoa jovem , ele sabe identificar quais são os maiores desafios climáticos deste momento . Acho que a maneira como nós moldamos o sistema onde os jovens estão inseridos dá-lhes pouca margem para ação , ou seja , de que te vale ter uma consciência ambiental se depois esse jovem vai bater à porta da Junta de Freguesia com uma proposta e essa proposta não é ouvida ? Penso que falta aqui uma concordância entre a consciência e a abertura para a ação coletiva .
O que é preciso para ser fora da casca ? O que é preciso ser fora da casca ? Acho que acima de tudo é ter a certeza de que nunca saberemos tudo sobre tudo . Ou seja , é permanecer sempre curiosos , olhar para as coisas e entender que uma opinião , a minha opinião , é tão válida como a tua , Daniela ou como a da Kateryna . Todos nós temos direito a ter uma opinião . Se essa opinião for divergente , tanto melhor , porque vai fomentar o debate . Penso que ser “ fora da casca ” é muito isso , é estar sempre à procura de informação , conseguir espremer o conteúdo dessa informação para conseguirmos chegar a novas posições e partir do debate para a construção de ação . Acho que esta ideia de que nós termos todos de concordar e que nos afastamos até de pessoas que pensam de forma diferente de nós não é saudável . Porque se não houvesse opiniões diferentes , significava que aquilo era um dogma . Então , se eu olho para a exportação da fruta e tenho uma opinião diferente da tua , melhor . Porque significa que do nosso debate podem sair políticas muito interessantes . Portanto , ser “ fora da casca ” para mim é sentido de comunidade , sentido de cooperação , sentido de equidade no sentido em que nós todos temos direito a partilhar a nossa opinião e é um sentido de progresso . Ou seja , sempre almejar para construir algo que faça mais sentido do que faz agora .
Como é que imaginas o futuro em 2030 ou depois dessa data ? Vou dar a minha resposta honesta . Eu imagino o mundo com muitos mais desafios do que os que temos agora , mas também imagino o mundo em que nós , enquanto cidadãs europeias , nos vamos sentir na pele de um cidadão do sul global . E isso é mesmo taxativo , é muito triste
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