TWENTY.THIRTY 3º edição | Page 12

ENTREVISTA
também . Se vocês pensarem bem , os países que são o grande exemplo a nível de sustentabilidade e políticas públicas em prol do desenvolvimento sustentável são os países nórdicos : Suécia , Dinamarca , Noruega . Mas se pensares numa ótica global , que sentido faz ter países que estão tão na frente de desenvolvimento sustentável , se depois tens outros países que estão a regredir ? Eu acho que falta muito esta noção da interdependência - não faz sentido pensar a sustentabilidade como , lá está outra vez , a metáfora da caixa , mas não é uma caixa que tu possas dizer “ eu estou a conservar os habitats – check ; eu faço a reciclagem no país – check ; eu tenho redutor da água no meu duche – check ”. Mas depois , eu , com o meu dinheiro , apoio indústrias que violam todos os direitos humanos das pessoas naquele sítio . Então isso não é desenvolvimento sustentável , tem de haver uma coerência . E acho que hoje em dia , nós levamos a palavra sustentabilidade muito para a ótica do ambiente . Claro que , sem dúvida , é uma âncora gigante , porque sem os recursos naturais que temos à nossa disposição hoje em dia , não vamos sobreviver enquanto espécie , mas acho que falta abrir um pouco a mente para a interseção de todos os outros temas . Porque tudo o que nós fazemos é político . Pensem quando vão ao supermercado : ao comprarem uma manga que vem da Guiné ou da África do Sul , mais do que uma atitude consumista , é um ato político . Porque ao comprares aquela manga com o teu dinheiro estás a dizer “ eu compactuo com a forma como esta manga foi exportada . Eu compactuo com os direitos humanos que foram violados ou não para esta manga estar aqui agora . Eu compactuo com a supremacia das grandes corporações aqui em Portugal , como Continente , Pingo Doce ” e por aí fora . Ou seja , o nosso dinheiro é um voto e tudo o que nós fazemos tem uma perspetiva política sempre . Por isso , acho que é abrir um pouco a mente para a interseção dessas pequenas coisas no nosso dia a dia .
Vocês falam com quem participa no terreno da sustentabilidade , vocês também o fazem ? Sim , de formas muito diferentes , mas sim . Porque estar no terreno pode significar coisas muito diferentes . O meu percurso sempre assim foi . Eu estudei Biologia e sou licenciada em Biologia apesar de nunca ter exercido na área da investigação . Sempre trabalhei muito na área de educação ambiental , comunicação da ciência e depois tive algum percurso como consultora de sustentabilidade . Ultimamente o que faço é facilitar experiências de educação não formal para a sustentabilidade . Portanto , trabalho muito com pessoas sobre diversos temas . O último curso que estou agora a desenvolver é com a Youth and Environment Europe e é sobre polinizadores e a sua conservação . Para mim , estar no no terreno é trabalhar com pessoas . Neste momento a equipa sou eu , a Lara e a Luísa . A Lara trabalha na área da gestão dos resíduos urbanos e ela está na área metropolitana do Porto , a ir de porta em porta a explicar como separar os resíduos . É muito interessante perceber quais são os entraves de hoje em dia para fazeres a separação dos resíduos , o que é que te impede . Ela faz essa sensibilização . Ela é mestre nesta área de gestão de resíduos urbanos . A Luísa é mais jovem . Ela tem 19 anos e está a terminar o seu curso no Porto , mas também de uma forma muito dela , trabalha no terreno porque ela é uma artista nata , muito boa em ilustração e no fundo , ela faz esta sensibilização através da sua arte . Portanto , eu diria que somos as três muito ativas de formas bem diferentes , mas é isso que nos faz os Fora da Casca .
Qual é o papel dos jovens e de que forma os tentam impactar ? Essa é pergunta de uma vida : “ qual é o papel dos jovens ”. É uma pergunta em que me tenho ainda debruçado nos últimos tempos . Primeiro , é interessante pensar o que é para nós um jovem , porque há muitas definições de jovem . Há pessoas que se definem pela idade . A UNESCO define que um jovem é até aos 30 anos . Existem outras definições , mas vamos assumir que definimos um jovem pela idade . Eu acho que o papel do jovem na sociedade é muito importante . Ou seja , para conseguires estabelecer progresso numa sociedade , tens de dar voz aos jovens . Pois quando tu tens uma mentalidade mais jovem , tens uma mentalidade que questiona , uma mentalidade que é curiosa e uma mentalidade que inspira à ação e tu tens força para agir . E o que acontece na sociedade de hoje em dia é que o poder político e a voz está muito nos adultos … quando eu digo adultos , é de 40-50 anos que têm uma visão do mundo que é de uma geração passada . E eu sinto que o progresso nasce da discordância . Mas para haver discordância , tu tens que dar voz aos jovens e isso não acontece muito . Acontece em algumas Juntas de Freguesia , onde realmente dão muita voz aos jovens , mas ainda existe muito a ótica de que , se tu ainda não trabalhaste 10 anos numa área , então tu não tens nada a dizer . Não , mas tu tens algo a dizer , tu tens uma opinião , a tua opinião conta e nós , n ’ Os Fora da Casca , não temos medo de posicionamento . Ou seja , nós acreditamos que todo o posicionamento é ideológico . A ação climática é um posicionamento ideológico . A conservação dos ecossistemas é um posicionamento . É uma maneira de tu veres o mundo e tu não tens que estar a trabalhar há 10 anos naquela área para teres uma opinião . Acreditamos também que tens todo o direito de mudar essa opinião quando tens nova informação , novos factos e novas experiências . Assim , eu acho que o papel dos jovens na sociedade é bastante importante .
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