8 ESPECIAL VERÃO: OUTROS RUMOS
12 DE JULHO DE 2005
A chave do reino
As Berlengas são uma da maiores atracções da região de Peniche
D.R.
O u t rora uma
i m p o rtante fort i f i c a ç ã o
do reino de Portugal, a
cidade acolheu uma
prisão no tempo da
ditadura e oferece
agora praias e alguns
spots para os amantes
do surf
José Manuel Camacho
A designação é da autoria do
Conselho de Guerra que no reina-
do de D. João IV acabou as obras
de fortificação da vila piscatória
de Peniche. Rodeada actualmente
pela muralha e com a presença
maciça da fortaleza assente sobre
uma península, Penich e ain da
mantém uma relação de extrema
dependência com o mar. E este do-
mina sob todos os aspectos o ritmo
da vila.
O porto de pesca, as traineiras a
vogarem nas ondas e as gaivotas
nos seus cantos esganiçados, pin-
tam o quadro que os nossos olhos
captam. Noutros tempos, o mar
não foi assim tão generoso com es-
ta placidez e, desprotegida, Peni-
che sofreu vagas sucessivas de ata-
ques de co rsário s fran ceses e
ingleses (daí a decisão de a fortifi-
car, logo em 1557, numa operação
que demorou até à Restauração).
A exploração dos recursos mari-
nhos é uma prática desde os tem-
pos romanos. É, aliás, a partir da
palavra latina “península” (pae-
ne+insula) que Peniche nasce, já
que, à letra, significa “quase ilha”.
Pela costa recortada e ponteada
por rochedos imponentes, escon-
dem–se praias de grande extensão.
É em alguma delas que os amantes
do surf podem encontrar boas con-
dições . Dizem os entendidos, atra-
vés dos sítios da Internet, que a
melhor é a do Baleal, “em frente à
o nda conhecida como Lagido”,
mas com as de Supertubos e Alma-
g reira como alternativas para
quem procura emoções fortes em
cima da prancha.
Do mar à terra, e voltando ao
princípio: a Fortaleza de Peniche.
Tirando o facto de ser um bom mi-
radouro sobre a costa, vale por se
visitar o seu museu e as condições
em que os presos políticos viviam
no tempo da ditadura. Transforma-
da em presídio de alta segurança
em 1934, foi de lá que Álvaro Cu-
nhal e outros nove presidiários ali
detidos escaparam a 3 de Janeiro
de 1960.
Existe documentação vária so-
bre a vida dos prisioneiros e as re-
gras de conduta, sendo possível
experimentar o ambiente frio e
despido das celas, uma das quais
ornamentada com desenhos do no-
nagenário antigo líder do Partido
Co mu nista Português, recente-
mente falecido.
Abril 20 05
Fortaleza de Peniche, onde o mito da prisão de alta segurança foi quebrado com a fuga dos presos políticos
Informações úteis
Como ir:
Rede Expressos - Autocarros diários, por 11 euros.
Comboio - Comboios diários, com transbordo em Bi-
furcação de Lares, por cerca de 10 euros.
Locais a visitar:
Fortaleza de Peniche e o seu Museu e os ateliers de
renda de Bilros. As Berlengas: um pequeno arquipéla-
go português situado a cerca de 15 km a oeste de Pe-
niche, sendo local de excelência para a prática de pes-
ca e de mergulho.
Uma vila adocicada
Óbidos, no distrito de Leiria,
serviu de dote a várias rainhas.
Mas não se ficam por aqui as
semelhanças com uma vila de
contos de fada
Hänsel e Gretel foram colher amoras à flo-
resta. Entretidos na brincadeira, não se dão
conta de que a noite cai e não conseguem
achar o caminho de volta para casa. Os dois fi-
cam assustados e começam a chorar.
Nesse instante, chega o Anão do Sono que
os acalma, atirando–lhes areia para os olhos,
para que durmam profundamente. No dia se-
guinte, a Fada do Orvalho acorda–os e as
crianças põem–se a caminho de casa. Enquan-
to relatam o seu sonho com os anjos, Hänsel e
Gretel encontram uma casa feita de doces.
Quando os dois, entusiasmados, começam a
arrancar pedaços da casa e a comer, ouve–se
uma voz do interior que os chama.
É no interior da sua muralha que nasceu a
vila de Óbidos. Pequena, minimalista, com as
suas asas caiadas de branco. Tão pequenas e
mimosas que parecem feitas de doce, tal e qual
como num conto de fadas. Mas a imaginação
aqui não é só desejo, porque esta vila de reis
(foi dote de várias rainhas portuguesas) é lite-
ralmente doce. Desde há três anos que se orga-
niza nos seus muros, em meados de Novem-
bro, o Festival Internacional de Chocolate, que
se povoa de visitantes e também de “pequenos
Hänsels e Gretels” que podem dar largas às
suas capacidades culinárias. Em cada esquina
descobre–se uma janela, igrejas e edifícios
Gastronomia:
Terra de pescadores, Peniche tem uma magnifica
gastronomia de mar. Destaca–se a excelência do peixe
fresco, a caldeirada de Peniche, a lagosta suada ou
simplesmente uma bela sardinha assada.
Alojamento:
Para todos os gostos e bolsas, a zona de Peniche
apresenta desde parques de campismo municipais, a
hotéis, passando por pensões e por ofertas de turismo
rural.
Retratos das Caldas
D.R.
D.R.
As termas e o artesanato mar-
cam uma cidade que é desde
há muito refúgio daqueles que
vivem a agitação das grandes
cidades
históricos de diferentes estilos: manuelino, gó-
tico e renascentista.
Ruas tortuosas e empedradas, que mantêm o
seu tom medieval. Paredes com a policromia
de muitas flores e trepadeiras que dão uma
constante alegria primaveril. Lojas de artesa-
nato com olaria, cerâmica, trabalhos em vime,
miniaturas de moinhos de vento, latoaria pin-
tada, trabalhos em teares manuais e bordados.
Não fica no meio da floresta, mas dá para
nos perdermos no extenso vale do rio Arnóia.
Pelo que se saiba, nunca existiu uma bruxa
mas isso não seria um problema. No conto dos
Grimm, os dois pequenos irmãos alemães des-
pacharam–na para dentro do forno e fizeram
um bolo. JMC
Fevereiro 2005
A região oeste do país abriga uma cidade
que, além da vocação de estância termal, é
muito conhecida pelo artesanato. Assim são
as Caldas da Rainha, um agradável núcleo
urbano com o seu animado mercado e a bele-
za infindável da Foz do Arelho, a praia da vi-
la.
A imagem das Caldas construiu–se no sé-
culo XX, como refúgio das elites urbanas,
conta Manuel Correia, fotógrafo e apreciador
da região. Sentado em frente do lago do Par-
que das Caldas, regista com a máquina foto-
gráfica mais um canto do Portugal que, como
ele diz, é tão sabido por muitos, mas real-
mente descoberto por poucos.
Segundo Manuel Correia, o caminho de
ferro foi inaugurado em 1887 e foi quando as
Caldas passaram a estar ao alcance de muitos
viajantes. Nesse século, destacaram–se uma
brilhante geração de ceramistas, povoando a
sua louça de formas e decorações naturalis-
tas, cobertos por vidrados com tendência pa-
ra o verde esmeralda e o amarelo mel, que
desde então obteve grande êxito em Portugal
e no estrangeiro. Nesta época, a fachada dos
prédios foi quase toda reformulada, recorren-
do ao jogo de cantarias, ao ferro forjado e aos
azulejos, sofrendo as influencias da “arte no-
va”. Algumas décadas mais tarde, após duas
fundações e uma história muito curiosa e
conturbada, a vila de Caldas da Rainha final-
mente conseguiu o estatuto de cidade.
Numa conversa de bar, após uma caminha-
da pelo centro e conversas com o povo da ci-
dade, a surpresa surge com uma história dos
refugiados da Segunda Guerra que invadiram
a região em meados de 1940, quando auto-
móveis estrangeiros lotaram as ruas da cida-
de com judeus de quase todos os cantos da
Europa em busca de um lugar seguro.
Caldas da Rainha é uma cidade que ainda
conserva como pode o seu património, os
seus mercados a céu aberto e que guarda to-
do o charme e contradição da urbanidade
moderna. CV
Novembro 2003