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1 INTRODUÇÃO
Com a Lei nº 12.587/2012, que dispõe sobre a Política Nacional de Mobilidade Urbana,
os municípios com população acima de 20 mil habitantes devem elaborar o Plano de
Mobilidade Urbana (PMU). Para isso, deve-se focar o desenvolvimento do transporte não
motorizado e o planejamento da infraestrutura urbana destinada aos deslocamentos a pé e
por bicicleta.
Com a implementação de políticas e ações presentes nos Planos de Mobilidade
Urbana, almeja-se ampliar possibilidades para uma reorganização da estrutura urbana
fundada nos meios não motorizados, a fim de se atingir maior interação entre a população e
o espaço urbano, colaborar para redução da emissão de gases na atmosfera, promover a
saúde e qualidade de vida, garantindo assim o direito ao transporte de forma mais sustentável
e igualitária (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2015).
Na prática, a compreensão dos deslocamentos a pé e bicicleta não ocorre de modo
simples. De acordo com Vasconcellos (2014), os planos e projetos de transporte e trânsito
historicamente ignoraram o ato de caminhar e pedalar. Segundo o autor, ciclistas e pedestres
sempre foram ignorados em suas necessidades de deslocamento, relegados a um plano
secundário diante das opções motorizadas e tratados como cidadãos de segunda classe
(VASCONCELLOS, 2014)
De acordo com ANTP (2015), existe dificuldade do meio técnico envolvido na
elaboração de Planos de Mobilidade para a compreensão de que os modos a pé e bicicleta,
assim como todas as outras formas de deslocamento, operam em rede. Isto significa que
necessitam de uma infraestrutura específica e conectada, cuja efetividade só pode ser
alcançada através de pesquisas específicas.
Diversos estudos oferecem metodologias sofisticadas para apontar índices de
saturação de vias e prever cenários de carregamentos viários no futuro. São estudos
baseados em contagens de tráfego, que podem até sintetizar uma matriz OD por meio de
métodos matemáticos e uso de softwares de engenharia de tráfego, de acordo com os
volumes nos arcos ou nós da rede de transporte (NETO et all, 2016).
No entanto, todas essas metodologias citadas para a obtenção de dados para subsidiar
os Planos de Mobilidade Urbana partem do enfoque veicular. Entre as pesquisas sugeridas
pelo Ministério das Cidades durante a elaboração do PMU, estão a realização de
levantamento de inventários físicos, pesquisas de comportamento de circulação, pesquisas
operacionais de transporte coletivo, e outras pesquisas temáticas caso seja indicada a
necessidade.
Assim, para corresponder à expectativa de reestruturação urbana fundada nos meios
não motorizados, dados se fazem necessários. Baseando-se na natureza estatística com
possibilidade de grande abrangência, a pesquisa origem destino domiciliar apresenta-se como
uma possibilidade para investigação de padrões de deslocamentos a pé e de bicicleta, que
são naturalmente mais dispersos e difíceis de serem detectados em pesquisas pontuais, como
as contagens de tráfego.
Para Zampieri (2012), o fluxo pedestre é um fenômeno complexo. O estudo do
deslocamento de bicicletas se mostra igualmente desafiador (SÁ, 2014). Embora haja grande
variedade de pesquisas do campo da engenharia de tráfego com metodologias sofisticadas,