Trabalho 2 - Revista CAUSE - Carina M Benedetti Edição 4 | Page 13

MODA É ARTE?

Texto Giuliana Mesquita

Foto Site da Vogue- Comme Des Garçonms

Moda é subversão,

moda é incômodo,

moda é história,

moda é obviedade,

moda é luta,

moda é política.

Arte também.

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"O ready-to-wear virou fast fashion", me disse Jean Paul Gaultier em uma entrevista tempos atrás. Fiquei pensando muito sobre como a moda - por um tempo, (quase) tudo que era apresentado na passarela - era considerada arte. As inspirações, a modelagem, o moodboard, a história por trás de cada peça, de cada truque de styling, de cada padronagem. Tudo isso tornava o mundo da moda mais próximo ao mundo da arte. Será que a velocidade com que as coleções estão sendo apresentadas está matando essa proximidade?

A questão é menos simples do que parece. Ainda que algumas coleções apresentadas tenham perdido um pouco a mão na hora de balancear o comercial e a criatividade, muito do que é desfilado em Paris e Milão ainda pode - e deve - ser considerado arte. Tome por exemplo a Prada, considerada uma das marcas mais "cerebrais" no mercado, com coleções que demoram a ser digeridas e que têm, por trás de cada detalhe, um mundo de histórias a serem descobertas. No seu inverno 2016, Miuccia retomou refências, tecidos, estampas para criar uma imagem carregada de significados. Na prática, eram só peças lindas, mas quem estava disposto a enxergar, era mais que isso. Muito mais. Transformar a roupa em história é arte.

Rei Kawabuco é um desses poucos exemplos em que podemos considerar a moda uma arte. Sem pensar em roupa como algo para se vestir, a estilista japonesa brinca com volumes abstratos. Chama seu trabalho de "não roupa". Em um dos melhores exemplos do balanço comercial e criativo, a Comme Des Garçons desfila arte feita com tecidos, mas é sucesso de vendas quando o assunto é seu logo, o coraçãozinho com olhos. Mais importante do que o desfile em si, a marca usa de seu espaço e notoriedade para causar distúrbio. Incomodar é arte.

Ou também podemos falar de John Galliano, que após algum tempo afastado depois de sua saída da Christian Dior, volta às passarelas capitaneando a Martin Margiela. Seria qualquer peça da dança das cadeiras do mundo da moda se nào estivéssemos falando de trajetórias tão distintas. O máximo de maximalismo e a opulência encontra o minimalismo desconstrutivista e, em uma junção que parecia improvável, os dois nomes se misturam e viram uma coisa só. As desconstruções da Margiela e o esquisitismo de Galliano se encontram na arte - a arte de subverter o que se espera de uma peça, de um tecido ou de uma coleção de moda. Subversão do óbvio é arte.

Assim como Jean Paul Gaultier, a Viktor & Rolf também fechou sua linha de prêt-à-porter para se focar na alta-costura, o que permite que a marca caminhe mais para o lado da arte nas roupas do que para a tendência mais usada do momento. Em seu desfile de inverno 2015, a dupla se inspirou em, olha só!, quadros, para criar vestidos volumosos e cheios de texturas. Obviedade pode ser arte.

Outra ótima vertente da moda que vira arte são os desfiles-manifesto. Ronaldo Fraga, em seu último desfile na São Paulo Fashion Week, recrutou vinte e oite modelos transsexuais e travestis para apresentar sua coleção de um vestido só. "Esse desfile não é sobre as roupas, mas sobre quem as veste", disse, emocionado, no começo da apresentação. Com um andar calmo e melancólico, as modelos desfilavam tubinhos inspirados nos anos 20, 30 e 40. Orgulhosas. No país em que se mata transsexuais e travestis no mundo, esse desfile é arte. Moda também é política. Luta também é arte. É fácil se desesperar, mas quando olhamos atentamente é possível ver que existem, sim, resistências quando falamos de moda e arte. É só estar disposto a notar.