le monde
A chapa que flutua sugere
a presença do espirito sem-
pre móvel. A dançarina segu-
ra dois bastões, um em cada
mão, representando os pólos
positivo e negativo de ener-
gia. Quando ela se move,
os dois se movimentam em
relação recíproca de modo
compensatório, a simbolizar
a interação dinâmica e cons-
tante de todos os opostos.A
grinalda natural que emoldu-
ra a dançarina indica um en-
trelaçamento harmonioso de
todos os aspectos da nature-
za, consciente e inconscien-
te, para formar um todo con-
tínuo e integrado. A grinalda
cria um têmeno sagrado, den-
tro do qual a dançarina está
protetoramente encerrada.
No sol, os gêmeos se encon-
tram parcialmente fechados
por um muro semicircular de
tijolos de ouro; aqui o tême-
no é vivo, natural e completo.
Separa a dançarina de tudo o
que não é significativo e es-
sencial –de tudo o que não lhe
pertence. Sem embargo disso,
ela tem espaço para mover-se
– o seu próprio espaço – dentro
do qual está livre para expres-
sar-se sem esforço. Em termos
junguianos, ela simboliza o eu,
centro da totalidade psíquica.
04
Chegamos à culminação
da longa jornada. Nesta gra-
vura final vemos uma dan-
çarina nua emoldurada por
uma grinalda viva de ramos
entrelaçados. Nos cantos
estão pintados um leão, um
boi, uma águia e uma figu-
ra angélica com um halo.
A carta se chama O Mundo.
A dançarina tem rosto, ca-
belos e seios de mulher, mas
as ancas finas e as pernas
fortes dão a entender que
se trata de um ser andrógi-
no, que combina e integra,
dentro do corpo, os elemen-
tos masculino e feminino.
Os opostos, cujo desenvolvi-
mento vimos trançado aqui,
se combinam numa entidade
só. O sexo neutro afasta-a
do mundo do pessoal para o
reino do transcendental, mas
a cor da pele marca-a como
humana. A dançarina move-
-se numa área de percepção
descrita como “Tu és aquilo”.
E “Eu sou aquilo que sou”.