Seis horas da manhã e Silvio Silvestre da Silva, de 40 anos, já está pronto pra iniciar mais um dia de trabalho. A rotina começa cedo e não tem hora para acabar. Silvio sustentou por 15 anos a família por meio do lixo, quando ele ainda era catador no antigo lixão, localizado no bairro São Jorge, em Maceió. Foi por uma iniciativa da Prefeitura de Maceió em contratar catadores para fazer parte da equipe de coletores de lixo da Slum, que ele se profissionalizou e está há quase 10 anos vestindo o fardamento laranja.
Com experiência de sobra, o coletor fala sobre as dificuldades de sua profissão e a realidade vivida no dia a dia. "Na rua, a gente não é tratado como ser humano, mas como bichos. O povo acha que nós que somos o lixo. Quando a gente passa tem gente que fala: 'lá vai o urubu', 'sai de perto do porco', e não é a gente que fede, é o lixo deles mesmos, inclusive, é comum eu sentar no ônibus e as pessoas saírem de perto", lembra Silvio, que completou dizendo que é frequente colegas de trabalho se envolverem em brigas na rua por conta da descriminação e das constantes ofensas.
A hora do almoço entre os turnos de trabalho também é um momento desagradável para Silvio. Para evitar os olhares de repressão das pessoas, ele já não almoça em restaurantes enquanto usa o fardamento. Segundo ele, as pessoas reclamam do mau cheiro e chegam a pedir para o proprietário retira-lo do local. "A gente leva a quentinha de casa e come na calçada mesmo. É melhor comer no chão do que ir a algum lugar e as pessoas ficarem falando coisa", completou.
Além da discriminação, os coletores têm que conviver diariamente com os perigos, que estão por toda a parte. "A vida de gari não é fácil. Eu já cai do caminhão algumas vezes porque o ritmo é bem intenso. Tem dia que eu corro vinte e cinco quilômetros atrás do caminhão, recolhendo o lixo. E isso piora ainda mais quando é época de chuva. Uma vez, eu estava coletando e um parceiro foi jogar uma garrafa de vidro no caminhão, mas ela bateu num ferro, voltou e caiu bem na minha boca. Por pouco não atingiu meu olho. Levei três pontos e passei uns dias afastado, mas até hoje tenho a cicatriz", contou o coletor.
Apesar do uso obrigatório dos EPIs (como luvas e botas antiderrapantes), os equipamentos ainda têm sido insuficientes para protegê-los. "Se a gente pegar de mau jeito um saco que tenha palito de churrasco, ele passa pela luva e fura nossa mão com facilidade. Esses equipamentos são bons pros garis que varrem as ruas, mas pra gente que tá pegando no lixo não protege muita coisa", afirmou Silvio Silvestre, que destacou que a falta de separação do lixo nas residências também agrava os riscos de algum acidente acontecer.
Por trás do lixo